A batalha em Micmás

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Conheça a batalha de Micmás, que deu início ao declínio do reinado de Saul, apesar de uma prodigiosa façanha de Jônatas 

A liderança fraca de Saul quase põe tudo a perder num confronto contra os filisteus. No entanto, a fidelidade e o compromisso com Deus de seu filho Jônatas, leva a vitória a Israel, na batalha de Micmás, mesmo diante de uma situação impossível de ser vencida!

Conheça essa incrível batalha, os erros de Saul e a fé extraordinária de Jônatas e de seu escudeiro! Você está pronto para ir para onde o seu Senhor o chamar?

A provocação aos filisteus, em Gibeá de Benjamim

A guerra contra os filisteus iniciou-se no segundo ano do reinado de Saul, por volta de 1050 a.C. O conflito crescente até culminar na batalha em Micmás está registrado nos capítulos 13-14 de 1Samuel.

Os filisteus foram os maiores adversários de Israel desde o período dos juízes até o reinado de Davi. Por décadas eles vinham sendo derrotados no Egito, e agora, buscavam expandir seus territórios em Canaã, nas terras dos israelitas.

Acontece que os filisteus tinham uma vantagem bélica que os colocava em uma situação muito superior aos israelitas. Eles tinham o monopólio da fundição do ferro! Eles haviam aprendido a fundir o ferro com os hititas, da Ásia Menor. Porém, eles tinham sido os primeiros a fazê-lo em Canaã. Confira o que diz 1Sm.13.19-21:

“Naquela época não havia nem mesmo um único ferreiro em toda a terra de Israel, pois os filisteus não queriam que os hebreus fizessem espadas e lanças. Assim, eles tinham que ir aos filisteus para afiar seus arados, enxadas, machados e foices. O preço para afiar rastelos e enxadas era oito gramas de prata, e quatro gramas de prata para afiar tridentes, machados e pontas de aguilhadas”

Por isso, diante do avanço dos filisteus e do monopólio, um dos grandes desafios de Saul no início de seu reinado seria derrotá-los e subjugá-los.

Assim, o rei mobilizou três mil soldados, dividindo-os em dois pelotões: dois mil com o rei, em Micmás e nos montes de Betel, e mil com o filho Jônatas, em Gibeá de Benjamim.

Ocorreu que Jônatas atacou os filisteus em Gibeá, e a notícia se espalhou, e as tropas dos filisteus começaram a se movimentar contra Saul.

Diante disso, Saul mandou tocar a trombeta de convocação para a guerra por todo Israel, dizendo:

“Que os hebreus fiquem sabendo disto!” 1Sm.13.3

Deste modo, os homens em idade para a guerra atenderam ao chamado de Saul, e todos convergiram para Gilgal.

A tolice de Saul em Gilgal


Até aqui tudo certo. Saul vinha seguindo as orientações de Samuel, o profeta/sacerdote de Israel.

Saul reprovado por Samuel” por John Singleton, 1798

A orientação de Samuel, se ele desejasse consultar a Deus, dada em 1Sm.10.7-8, era de que ele deveria se reunir em Gilgal, e esperar sete dias até que Samuel chegasse. Só então o profeta ofereceria holocaustos e consultaria a Deus sobre a batalha.

Foi isso o que Saul fez, mobilizando todo o exército em Gilgal.

No entanto, Saul começou a ser pressionado pelos seus soldados. Um grande exército filisteu havia assustado os israelitas em Micmás, e a notícia apavorou os soldados em Gilgal (13.7). Para piorar, correram os sete dias, e Samuel não chegou para oferecer holocaustos.

Os soldados, que já eram numericamente inferiores, começaram a dispersar, e Saul cedeu à pressão. Ele disse:

Tragam-me o holocausto e os sacrifícios de comunhão” 1Sm.13.9

E o próprio Saul, um rei, benjamita, ofereceu o holocausto! Era uma violação flagrante da lei de Deus (Nm.16.40). Esse foi o primeiro grave erro de Saul como rei. Ele se mostrou um rei incapaz de liderar sob pressão, ao ceder à impaciência de seus soldados.

Essa postura de Saul foi fatal para o seu reinado. Quando Samuel chegou, ficou furioso, e o rei tentou se explicar:

Quando vi que os soldados estavam se dispersando e que você não tinha chegado no prazo estabelecido e que os filisteus estavam reunidos em Micmás, pensei: ‘Agora, os filisteus me atacarão em Gilgal, e eu não busquei o Senhor’. Por isso senti-me obrigado a oferecer o holocausto” 1Sm.13.11-13.

Mas Samuel não aceitou as desculpas:

“Você agiu como tolo, desobedecendo ao mandamento que o Senhor seu Deus lhe deu; se você tivesse obedecido, ele teria estabelecido para sempre o seu reinado sobre Israel. Mas agora seu reinado não permanecerá; o Senhor procurou um homem segundo o seu coração e o designou líder de seu povo, pois você não obedeceu ao mandamento do Senhor” 1Sm.13.13-14.

Assim, Saul foi rejeitado por Deus como rei, e começou sua derrocada emocional.

Choque e terror dos filisteus

O exército de Saul contra os filisteus” The Brick Testament

Embora Samuel não tivesse consultado o Senhor, a guerra continuava, e Saul estava com seríssimos problemas.

Os filisteus haviam mobilizado todo o seu exército em Micmás, e era um exército impressionante. O exército era composto por três mil carros de guerra, seis mil condutores (dois por carro, um para dirigir e outro para atirar) e “tantos soldados quanto a areia da praia” 1Sm.13.5.

Acha pouco, ou quer mais?

Para piorar, como já dissemos, somente os filisteus possuíam a tecnologia do ferro, e somente eles tinham espadas e lanças de ferro: “Por isso no dia da batalha nenhum soldado de Saul e Jônatas tinha espada ou lança nas mãos, exceto o próprio Saul e seu filho Jônatas” 1Sm.13.22. Saul iria enfrentá-los com paus e pedras!

Do lado de Israel, haviam os dois pelotões de Saul e Jônatas, que somavam apenas três mil homens (havia um carro de guerra filisteu contra cada soldado israelita!!!) além do restante do povo, que o rei havia convocado em Gilgal, que havia se dispersado de medo, e somavam apenas seiscentos homens (1Sm.13.15).

Como estavam seus soldados?

Quando os soldados de Israel viram que a situação era difícil e que seu exército estava sendo muito pressionado, esconderam-se em cavernas e buracos, entre as rochas e em poços e cisternas. Alguns hebreus até atravessaram o Jordão para chegar à terra de Gade e de Gileade” 1Sm.13.6-7

Os soldados estavam apavorados e humilhantemente escondidos em cavernas.

Era a hora de Saul revelar-se como um grande rei e inspirar os seus soldados. Mas, pelo contrário, ele pegou o seu destacamento de soldados, e foi refugiar-se em Gibeá de Benjamim, onde ficou confortavelmente “debaixo de uma romãzeira” (1Sm.14.2).

Para piorar, Saul trouxe para junto de si o sacerdote Aías, da linhagem já rejeitada por Deus de Eli (1Sm.2.30-33). Um rei rejeitado foi pedir auxílio de um sacerdote igualmente rejeitado por Deus. Além disso, eles possuíam a estola sacerdotal, mesmo assim, eles não consultaram a Deus.

Enquanto isso, o numeroso exército dos filisteus se organizava. Três divisões do exército saíram de Micmás:

  • uma em direção de Ofra, nos arredores de Sual;
  • outra na direção de Bete-Horom;
  • outra na região fronteiriça “de onde se avista o vale de Zeboim, diante do deserto” (1Sm.13.18).

Não havia esperança para Israel.

A vitória de Jônatas

“Jônatas contra os filisteus” por William Brassey Hole

Apesar de todas as tolices de Saul, e do cenário de uma batalha que seria um massacre para Israel, Deus estava preparando uma vitória improvável, mas não através do rei.

Seu filho Jônatas, mais uma vez buscando a derrota dos seus inimigos, decidiu tomar uma providência, às escondidas de seu pai.

A confiança do príncipe de Israel estava toda em Deus. Ele diz ao seu escudeiro:

Vamos ao destacamento daqueles incircuncisos. Talvez o Senhor aja em nosso favor, pois nada pode impedir o Senhor de salvar, seja com muitos ou com poucos” 1Sm.14.6

A coragem do anônimo escudeiro de Jônatas deve ser destacada, também. Ele respondeu:

“Faze tudo o que tiveres em mente; eu irei contigo” 1Sm.14.7

Bozez e Sené

Desfiladeiros de Micmás – google imagens

No entanto, para chegar ao destacamento filisteu, ele e seu escudeiro deveriam atravessar um desfiladeiro íngreme. Essa primeira dificuldade de batalha tinha nome. Cada um dos lados dos penhascos, que formavam o desfiladeiro, chamava-se Bozez e Sené, que significa, respectivamente, “escorregadio” e “espinhoso”.

Buscando a vontade de Deus

Antes de atacar os filisteus, Jônatas deveria buscar a vontade de Deus. Como não tinha com ele nem Samuel, nem a estola sacerdotal, ele buscou por um sinal.

A estratégia era simples. Eles se fariam vistos pelos soldados. Se os soldados dissessem que iriam até eles, então eles não avançariam. Se, por outro lado, os soldados os chamassem, eles entenderiam que Deus iria trazer vitória a Israel (1Sm.14.8-9)

Assim o fizeram. Quando os filisteus os viram, gritaram para eles: “Subam até aqui e lhes daremos uma lição” 1Sm.14.12. Era a resposta de que precisavam: “o Senhor os entregou nas mãos de Israel” 1Sm.14.12.

Uma estratégia inteligente

Jônatas obtém sua vitória sobre os filisteus usando uma artimanha inteligente. Ele escala o desfiladeiro até os filisteus colocando o seu escudeiro logo atrás. Acontece que era comum que os escudeiros fosse à frente de seus senhores (1Sm.17.7). E isso enganou os filisteus direitinho.

Enquanto eles esperavam pelo soldado que viria atrás do escudeiro, Jônatas, à frente, provavelmente engatinhando sem ser visto, derrubava os soldados, um a um e o escudeiro aproveitava e cravava a espada, em seguida.

Desse modo ardiloso, Jônatas e seu escudeiro, num único ataque, mataram cerca de vinte filisteus (1Sm.14.13-14).

O choque e terror de Deus

Após esse primeiro confronto, a notícia se espalhou pelo destacamento filisteu e o medo tomou conta de todo o exército.

O pavor foi ainda pior. Deus estava preparando um assustador terremoto contra os filisteus (1Sm.14.15)!!!

Aliados inesperados

Enquanto isso, lá em Gibeá, Saul saiu da sombra da romãzeira quando soube da confusão no destacamento filisteu.

Então, mandou verificar qual soldado faltava, e assim descobriu que aquilo era um trabalho de seu filho Jônatas!

Para saber se deveria ou não seguir a batalha, Saul mandou chamar o sacerdote Aías, para consultar a Deus pela estola sacerdotal, finalmente!

Em algumas traduções, diz que Saul mandou trazer a “Arca de Deus” 1Sm.14.18. No entanto, segundo a tradução grega do Antigo Testamento, a Seputaginta, a palavra é “estola sacerdotal”. Considerando que é muito improvável que a Arca estivesse em Gibeá, pois naquele tempo ela ficava em Quiriate-Jearim, e transportá-la poderia trazer morte; além do que, não há notícia de que a Arca fosse usada para consultar a Deus; diante dessas coisas, o mais provável é que Saul pediu mesmo foi a estola sacerdotal e não a arca.

No entanto, mais uma vez Saul mostrou falta de controle e ansiedade com as coisas de Deus, numa situação cômica de tão ridícula.

Quando o tumulto cresceu entre os filisteus, Saul desistiu de consultar a Deus: “Não precisa trazer a arca” 1Sm.14.19.

Juntou seu exército e correu auxiliar seu filho a desbaratar os filisteus. Era a chance da vitória.

Mas… ficou só no gosto para os soldados de Saul…

Quando eles chegaram no centro da batalha, diz o texto:

Encontraram os filisteus em total confusão, ferindo uns aos outros com suas espadas. Alguns hebreus que antes estavam do lado dos filisteus e que com eles tinham ido ao acampamento filisteu, passaram para o lado dos israelitas que estavam com Saul e Jônatas” 1Sm.14.20-21.

Haviam muitos israelitas descontentes com o reinado de Saul que haviam debandado para outras regiões. Alguns desses rebeldes formariam o futuro exército de Davi (1Sm.22.2). E alguns desses rebeldes lutavam pelo exército filisteu.

Mas, quando viram que Deus estava com Israel, eles tomaram posição em favor de seu povo, e passaram a lutar contra os filisteus.

“Viva!!!”

Quando Saul chegou, não precisou lutar. Deus não traria vitória através de Saul. Deus suscitou um exército do próprio exército inimigo! Um exército que eles não sabiam que tinham!

Foi só então que os israelitas que haviam se escondido, no início da batalha, saíram dos esconderijos e entraram na batalha também!  E todos os israelitas perseguiram os filisteus até Bete-Áven, numa vitória impressionante!

O caso do mel

Deus trouxe uma grande vitória para Israel através da ousadia de Jônatas, mas Saul ainda não tinha concluído suas tolices!

Enquanto Jônatas tinha saído para enfrentar os israelitas, Saul havia tido uma péssima ideia para uma batalha. Ele fez um juramento:

“Maldito seja todo o que comer antes do anoitecer, antes que eu tenha me vingado de meus inimigos” 1Sm.14.24

Por isso, seus soldados estavam exaustos, pois estavam de jejum.

Após a vitória contra os filisteus, os exército se juntaram, e juntos entraram em um bosque “onde havia mel no chão” (1Sm.14.25).

Nenhum dos soldados havia comido o mel por causa do juramento de Saul. Jônatas, porém, comeu do mel, pois não sabia desse juramento.

Saul, sem saber o que havia acontecido, ordenou que atacassem novamente os filisteus. Mais uma vez, ele tomara uma iniciativa sem consultar a Deus.

Por isso, o sacerdote Aías tomou a frente e consultou à Deus sobre a decisão de ir à batalha. Como Deus não havia respondido, eles concluíram que havia pecado em Israel.

Saul proclamou ao seu exército:

“Venham cá, todos vocês que são líderes do exército, e descubramos que pecado foi cometido hoje. Juro pelo nome do Senhor, o libertador de Israel, mesmo que seja meu filho Jônatas, ele morrerá” 1Sm.14.38-39.

“Qual o problema de comer um melzinho??”

Eles tiraram a sorte para descobrir quem estava em pecado. E a sorte caiu sobre Jônatas!

Jônatas, então, contou que havia comido do mel e que só errara devido à tolice do pai! Mas Saul respondeu, insanamente:

“Que Deus me castigue com todo rigor, caso você não morra, Jônatas” 1Sm.14.44

Jônatas tinha acabado de trazer uma extraordinária vitória para Israel, e agora, devido às desequilibradas decisões de Saul, o pai estava pronto para matar o filho!

Foi preciso que o povo de Israel intercedesse por Jônatas, e só por isso. Jônatas não foi morto.

Desanimados, eles pararam de perseguir os filisteus.

E foi assim que os israelitas venceram uma batalha impossível contra os filisteus, em Micmás. Nessa história, Saul iniciou sua decadência a partir de diversos erros de liderança e falta de temor do Senhor. Jônatas, no entanto, apresentou uma grande força de caráter e um grande coragem!

E você, estaria pronto para responder ao seu Senhor, numa situação dessas: “Faze tudo o que tiveres em mente; eu irei contigo”?

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