A descoberta do templo de Ártemis

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Como um arquiteto britânico descobriu, nas ruínas de Éfeso, uma das 7 maravilhas do mundo, e trouxe vivacidade a um dos relatos bíblicos protagonizados pelo apóstolo Paulo

réplica da estátua de Ártemis, encontrada nas ruínas de Éfeso

O templo de Ártemis é considerado uma das 7 maravilhas do mundo antigo e era a principal atração da cidade de Éfeso, na costa do mar Egeu.

O templo foi erguido pela primeira vez em 850 a.C, inicialmente em honra a outra deusa, Cibele, que era uma espécie de ancestral frígia de Ártemis. Esse primeiro templo foi destruído por uma grande inundação, levando areia e lixo para dentro do templo.

Um segundo templo foi erguido sobre ele, agora patrocinado pelo Imperador da Lídia, o rei Creso, e seu projeto ficou nas mãos do arquiteto Quersifrão, em 550 a.C. Mas, em 356 a.C, um jovem em busca de fama fácil chamado Heróstrato incendiou e destruiu o templo. Daí a expressão “fama herostrática”, para aqueles que buscam fama a qualquer preço.

Em 323 a.C, projetado pelo arquiteto Cherisphron, o templo foi erguido pela terceira vez agora maior do que nunca, e fez da cidade de Éfeso um grande centro de culto da região.

réplica do templo de Diana

O Artemísio, como ficou conhecido, foi uma das construções mais deslumbrantes da antiguidade. Tinha mais de 100 metros de comprimento, mais de 40 de largura e mais de 17 metros de altura, com cerca de 100 colunas de mármore numa espécie de floresta de colunas do estilo jônico.

No alto da entrada do templo, esculpido na pedra, um rosto da Medusa observa as Amazonas que buscam refúgio no Artemísio, retratando a lenda de que as guerreiras ali se refugiaram de Hércules e de Dionísio. No interior do templo, havia uma estátua gigante de 15 metros da deusa Ártemis, feita de ouro, prata e ébano e possuía muitos seios, como símbolo da fertilidade.

“Um templo só pra mim”

[E sim, Ártemis é a deusa Diana, que dá nome e inspira a amazona Diana, também conhecida como Mulher-Maravilha, heroína da DC Comics.]

Muitas réplicas em miniatura tanto da estátua quanto do templo eram vendidas por mercadores que fervilhavam em torno do templo para enriquecerem através da multidão que visitava a cidade em peregrinações para oferendas à deusa.

Foi isso o que viu o apóstolo Paulo, quando esteve na cidade de Éfeso, no primeiro século.

Paulo e o “Sindicato dos Ourives”

A presença do Artemísio na cidade de Éfeso era motivo de orgulho para seus moradores. Até porque o culto à deusa movimentava consideravelmente a economia local.

A importância do templo pode ser percebida na passagem do apóstolo Paulo pela cidade. Na metade do primeiro século, ele residiu em Éfeso por 2 anos, ensinando para moradores de toda a Ásia, na Escola de Tirano (At. 19.8-20).

O impacto da mensagem do apóstolo foi tão grande na cidade que as vendas dos objetos sagrados e das miniaturas caíram! Por isso, Demétrio, um ourives que fazia miniaturas do Artemísio em prata, mobilizou o “sindicato dos ourives” e alertou:

Não somente há o perigo de a nossa profissão cair em descrédito, como também o de o próprio templo da grande deusa, Diana, ser estimado em nada, e ser mesmo destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo adoram” (At.19.27).

Então, os ourives saíram alvoroçando as ruas, gritando:

Grande é a Diana dos efésios!” (At.19.28).

Capturaram os macedônios Gaio e Aristarco, companheiros de Paulo, e levaram eles ao teatro, para serem julgados diante de uma multidão. Quem salvou a pele dos missionários foi o escrivão, que acalmou a turba, dizendo:

Quem, porventura, não sabe que a cidade de Éfeso é a guardiã do templo da grande Diana e da imagem que caiu de Júpiter? Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos mantenhais calmos e nada façais precipitadamente” (At.19.35-36).

Um outro relato também relaciona os primeiros cristãos em conflitos com os adoradores da deusa. Diz um texto apócrifo do segundo século chamado “Atos de João” que o próprio apóstolo João teria orado publicamente dentro do Artemísio contra os adoradores de Diana, de modo que, diz o apócrifo, metade do templo teria ruído por causa de sua oração!

A descoberta do Templo de Diana

gravura do Templo de Diana, por Philip Schaff, 1887

Depois da passagem do apóstolo Paulo e da perseguição da igreja em Éfeso, o templo durou ainda muitos anos até ruir completamente com a invasão dos godos, no ano 262, e nunca mais foi reerguido.

As ruínas do templo só voltarão a ver a luz do sol algumas centenas de anos depois.

No século XIX, outro arquiteto iria cruzar o caminho da deusa. O britânico John Turtle Wood havia sido contratado pela Turquia otomana para projetar uma nova linha ferroviária que unisse o porto de Esparta (atual Izmir) à Denizli.

Acontece que, enquanto esteve nas proximidades de Éfeso, o arquiteto foi se apaixonando cada vez mais pela possibilidade de descobrir as ruínas do templo. Até que, em 1863, com um escasso patrocínio do Museu Britânico de Londres, largou o projeto ferroviário e mergulhou na escavação das ruínas da cidade em busca do famoso Templo de Ártemis, tomando como uma das evidências de sua existência o próprio texto sagrado de Atos dos apóstolos.

Em 2 de maio de 1863, nas ruínas da cidade de Éfeso, na foz do rio Cayster, a 5 quilômetros do Mar Egeu, Wood iniciou suas buscas por árduos 5 anos de escavação sem encontrar nenhum vestígio das mais de 100 colunas de mármore de Diana.

O mapa do tesouro para o templo

O templo ainda não havia sido encontrado, mas o teatro sim. Aquele mesmo teatro deslumbrante onde Gaio e Aristarco foram levados pela turba revoltada, naquele tumulto de Éfeso. Era um teatro na encosta do monte Pion, que acomodava mais de 24 mil espectadores!

Foi nesse teatro que o arqueólogo encontrou uma inscrição que serviu-lhe como um verdadeiro mapa do tesouro. Essa inscrição narrava uma procissão anual para a deusa. O caminho da procissão seguia pela rua principal chamada Arcadiana, toda pavimentada de mármore: a procissão entrava pela Porta Magnésia, ia do Templo ao Teatro e saía pela Porta Corésia.

Foi através dessa inscrição que Wood encontrou as Portas Magnésia e Corésia até que, finalmente, em 31 de dezembro de 1869, a primeira peça de mármore do templo foi escavada.

A partir daí, escavaram ainda por mais 5 anos até trazerem à luz o que havia restado do formidável templo, soterrado a mais de 5 metros de profundidade.

As escavações levaram ainda muitos anos e muitas peças encontradas nesse templo estão expostas hoje no Museu Britânico, na Galeria Efésia.

Em 1874, depois de enfrentar febres, ladrões, terremotos, ferimentos, o calor do verão e o frio do inverno, Turtle voltou à Londres.

Entre 1904-1905, o templo ainda traria surpresas. O arqueólogo David Hogarth trabalhava próximo aos pedestais do templo escavado por Turtle. Percebeu que, quando batia nos pedestais, o som causado era oco. Daí, resolveu abrir o lugar e acabou encontrando as peças mais preciosas das ruínas – uma coleção de jóias, obras de arte entre outros tesouros que haviam sido colocados lá como oferendas na época da dedicação do templo.

Quando uma religião é centralizada em templos e ídolos feitos por mãos humanas, o seu fim é mesmo virar ruínas. Um templo tão grandioso, obra-prima da criação humana não prevaleceu sobre o tempo e as circunstâncias. Por outro lado, mesmo debaixo de muita perseguição, mesmo o apóstolo Paulo tendo sido expulso da cidade pelos fanáticos religiosos da cidade, o evangelho pregado pelo apóstolo prevalece sobre os tempos e as circunstâncias, alcançando todo o mundo, levando a esperança da salvação a todos os homens.

Consulta

Manual Bíblico Unger
Grande Livro das Mitologias, Coleção Mundo Estranho

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