Naquela noite sombria, ao som do rio do vale de Cedron, seu rosto, deitado na terra, manchava o barro com lágrimas. Seu suor, fervilhando por causa da profunda angústia e tristeza de morte, misturou-se ao sangue, salpicando a túnica. Com os punhos apertados, clamava ao Pai com grande intensidade:
“Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres” Mc 14.36.
Três vezes Jesus orou, suportando com a fraqueza humana o tormento daquela véspera.
“Aba, Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero, mas sim o que tu queres” Mc 14.36.
Logo então foi confortado pelos próprios anjos, todos eles conscientes do que tinham ajudado a preparar nas eras que se passaram.
Jesus levantou-se resoluto. Cabeça erguida. E seguiu em frente.
“Chegou a hora”, ele disse.
O contexto da passagem
O texto de João 18.1-11 é uma passagem única das Escrituras. Ela relata o mesmo episódio nos outros três evangelhos, mas o apóstolo João aqui busca mostrar o que os outros não tinham dito, e busca apresentar um retrato diferente de Jesus. Aqui, diferente dos outros evangelhos, Jesus é apresentado com toda a autoridade, tendo o domínio pleno da situação, e não como um Cordeiro mudo entregue aos malfeitores.
Meu objetivo neste texto é calibrarmos nossa igreja e nossas vidas para uma vida centrada em Cristo Jesus, contemplando sua autoridade, seu sacrifício e seu amor, voltarmos a colocar no lugar tudo o que não estiver submetido à autoridade do nosso Senhor Jesus. Essa passagem que lemos é singular porque, de certa forma, ela resume toda a vitória de Jesus através da crucificação. Aqui, de forma sintética, veremos de antemão o que ocorrerá de forma mais extensa no restante da narrativa. Nesta síntese, veremos A VITÓRIA DE CRISTO SOBRE O IMPÉRIO DAS TREVAS; veremos A CONQUISTA DA NOSSA SALVAÇÃO e finalmente CRISTO SACIANDO A IRA DO PAI.
1) A VITÓRIA DE CRISTO SOBRE O IMPÉRIO DAS TREVAS – v. 1-6
“Tendo terminado de orar, Jesus saiu com os seus discípulos e atravessou o vale do Cedrom. Do outro lado havia um olival, onde entrou com eles. Ora, Judas, o traidor, conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se reunira ali com os seus discípulos. Então Judas foi para o olival, levando consigo um destacamento de soldados e alguns guardas enviados pelos chefes dos sacerdotes e fariseus, levando tochas, lanternas e armas. Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, saiu e lhes perguntou: “A quem vocês estão procurando? ” “A Jesus de Nazaré”, responderam eles. “Sou eu”, disse Jesus. ( E Judas, o traidor, estava com eles. ) Quando Jesus disse: “Sou eu”, eles recuaram e caíram por terra”
a) “Jesus saiu com os seus discípulos e atravessou o vale do Cedrom”

O cenário descrito aqui é lúgubre. Jesus e os discípulos, para chegarem ao Jardim do Getsêmani, local onde Jesus orava, precisava passar pelo Vale de Cedrom, que significa “sombrio”, “escuro”. Talvez o rio tenha esse nome por algo ainda mais significativo. Quando os sacerdotes queimavam os cordeiros para a Páscoa, os restos mortais desses animais, seu sangue principalmente, eram desaguados nas margens desse rio. O sangue escurecia a água às margens do Cedrom. Sangue e água. O cálice sombrio, cujo cheiro certamente exalou aos discípulos quando passaram pelo vale.
b) “outro lado havia um olival, onde entrou com eles. Ora, Judas, o traidor, conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se reunira ali com os seus discípulos.”
Após passarem pelo Vale, Jesus entrou no Jardim das Oliveiras, no Getsêmani. Não entrou Jesus na calada da noite para se esconder. Dois motivos devem ter levado Jesus para aquele lugar. Primeiro, para se afastar da multidão. Jesus sabia o que estava para acontecer, e por isso fugia de qualquer rebelião que poderia ocorrer. Jesus estava indo enfrentar sua morte sozinho. Em segundo lugar, Jesus estava indo onde poderia ser encontrado, estava indo onde costumava ir – seu lugar de oração. Essa passagem deve deixar claro para nós que Jesus não foi pego de surpreso, e sim estava oferecendo um sacrifício voluntário. Ele passaria pela agonia da oração, mas agora, naquele Segundo Jardim, o Segundo Adão seria totalmente obediente e estava pronto para pisar na cabeça da serpente.
c) “Então Judas foi para o olival, levando consigo um destacamento de soldados e alguns guardas enviados pelos chefes dos sacerdotes e fariseus, levando tochas, lanternas e armas.“
Agora, a história da prisão, tortura e morte de Jesus se inicia. Os inimigos do Redentor se aproximam. Temos aqui primeiramente o destacamento romano, o exército conquistador mais temido da história. Na menor das hipóteses, duzentos deles pisotearam as azeitonas naquele jardim. Duzentos soldados gentios cercando aquele grupo de discípulos naquela noite entre as árvores deveria formar um ambiente totalmente apavorante. Compondo esse mapa estavam os guardas judeus, servos dos sacerdotes. A polícia do Templo. Diz o texto ironicamente que eles foram enviados pelos sacerdotes (saduceus) e fariseus. Ou seja, esse grupo unido com um único propósito eram rivais aguerridos. Gentios, saduceus e fariseus não se suportavam uns aos outros, mas, neste momento, cumpria-se o que o Salmo 2 dizia: “Os reis da terra tomam posição e os governantes conspiram unidos contra o Senhor e contra o seu ungido” (v.2).
No comando deste exército terrível, quem sabe cheio de orgulho por liderar homens tão poderosos, estava Judas. Em João 13.27, diz o texto que Satanás entrou nele. A Serpente, crendo que estava chegando à final vitória depois de milênios de rivalidade, queria assistir a tudo de camarote, pelos olhos de Judas. O próprio demônio beijou Jesus pelos lábios de Judas. Não é absurdo pensar que aquele exército também tinha os olhos vermelhos do inferno. Não é absurdo pensar que aqueles soldados enviados para prender Jesus estavam dominados pelos asseclas da serpente. Esse, afinal, como nenhum outro já houve, era o exército encarnado do Império das Trevas.
d) “Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, saiu e lhes perguntou: “A quem vocês estão procurando? ” “A Jesus de Nazaré”, responderam eles. “Sou eu”, disse Jesus. (E Judas, o traidor, estava com eles.) Quando Jesus disse: “Sou eu”, eles recuaram e caíram por terra”
A sequência nos mostra um Redentor totalmente consciente de sua missão e dominando a situação como se fosse Ele o comandante daquela situação. Os soldados se aproximaram, temendo, mas foi Jesus quem “Saiu e lhes perguntou”. Jesus sabia de tudo. João 13.1 é ainda mais enfático: “Um pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Jesus sabia exatamente o que ia acontecer. Jesus sabia quem eram os seus discípulos. Mesmo assim, ele saiu e tomou posição para amá-los até o fim.
À resposta dos soldados de que procuravam Jesus de Nazaré, aquele homem vestido de trapos sujos da terra ecoou um som que reverberou na memória demoníaca, levando-os até o Monte Sinai. Jesus disse, “Eu Sou”.
O rugido de um leão é um dos sons mais poderosos da terra. Especialistas dizem que o seu rugido pode ser ouvido a 8 quilômetros de distância. Quando ele ruge, está dizendo para todos naquela área em torno de 8 quilômetros que aquela terra tem um rei. Quando o leão ruge, os seus rivais se curvam, suas presas fogem aterrorizadas quando o leão ruge. Quando o leão ruge, os seus rivais e suas presas sentem o corpo estremecer. Suas pernas ficam bambas. Naquela noite sombria naquele jardim de oliveiras, o Leão Rugiu, e diz o texto que 200 soldados terríveis recuaram e caíram por terra.

A situação descrita por João nos mostra que Jesus era o Senhor daquela Terra e o conquistador do Império das Trevas. Ele tinha o completo domínio da situação, e todos os demônios ali presentes sabiam que se ele quissesse ele os destruiria com o sopro de sua boca. Temam, demônios! porque não foi aquela a hora, mas a hora vai chegar, porque aquele que foi entregue para a Cruz é o Senhor de toda a Terra.
2) A CONQUISTA DA NOSSA SALVAÇÃO – v. 7-9
“Novamente lhes perguntou: “A quem procuram? ” E eles disseram: “A Jesus de Nazaré”. Respondeu Jesus: “Já lhes disse que sou eu. Se vocês estão me procurando, deixem ir embora estes homens”. Isso aconteceu para que se cumprissem as palavras que ele dissera: “Não perdi nenhum dos que me deste”
continua…