Ansiedade é um assunto que dispensa apresentações.
Todos conhecemos em maior ou em menor grau os efeitos de sua presença indesejada no coração e na mente. Os motivos que geram a ansiedade, porém, são complexos e envolvem muitos fatores. Podemos falar, de maneira geral, que ela prospera em nossos dias devido a alguns fatores mais básicos, tais como: o aumento da complexidade da vida social; o incentivo e a propaganda de alguns comportamentos pecaminosos específicos; e o descrédito da verdade e o aumento da confusão a respeito do que é certo e errado.
Quando saímos de casa, entramos em um mundo confuso como um labirinto mergulhado na neblina. A complexidade do mundo contemporâneo nos dá a sensação de sermos incapazes de lidarmos com ele. A incerteza, a confusão, a falta de convicção e a sensação de não termos o controle da vida, todos esses elementos são ingredientes muito desejados pelo bicho da ansiedade.
Apesar do nó intricado que enxergamos quando procuramos os fatores e as causas da ansiedade, gostaria de apresentar alguns hábitos devocionais que são muito simples para ajudar a combatê-la. Os hábitos devocionais podem enganar pela simplicidade, mas não se engane, assim como a simplicidade do bebê na manjedoura, cuja visão simples escondia o maior milagre jamais ocorrido no Universo, o mistério da encarnação, esses hábitos são sobretudo as armas espirituais dadas por Deus, as ferramentas oferecidas por Deus aos seus filhos para lidar com esse mundo tenebroso. É claro que não é uma receita infalível, não é como um remédio para dor de cabeça. Já que lidamos com esse mundo complicado todos os dias, a ansiedade é um mal que deve ser combatido todos os dias.
Cada um dos hábitos devocionais, para além do seu valor próprio, que é aumentar nosso relacionamento com Deus, nos conduzir na santificação, são também meios de combater aquelas fontes alimentares do bicho da ansiedade, matando-o pela raiz.
Vamos a eles.
Orações e cânticos de ações de graças
O orgulho, a vaidade e a cobiça são apresentados pela Palavra de Deus como grandes fontes alimentares da ansiedade. Quando a cobiça corre em nossas veias – pode observar – nas paredes sanguíneas estará lá a ansiedade, parasitando.
O Salmo 131 é um grande exemplo, quando Davi fala a Deus sobre seu próprio coração. Ele começa dizendo: “Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim.” (v.1).
Perceba que quem está falando isso é o maior rei de Israel, aquele que ousou derrotar um gigante e desejou construir um templo para Deus. Apesar de sua ousadia corajosa, Davi não almejava essas coisas para si mesmo, e ele não colocava nelas a base para sua vida. A fonte de sua felicidade estava em Deus. Ele tinha contentamento: “De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança.” (v.2). Davi se alegrava com tudo o que Deus lhe dava, por isso estava sempre tranquilo como uma criança satisfeita.
Saul foi muito diferente. Depois que Samuel disse a Saul que Deus o havia rejeitado, ele passa a ser atormentado. Vemos um Saul escravizado pela inveja, pelo medo, pela ira. Ele começa a ter paranoias conspiracionistas e chega muito perto da loucura. Seu coração, cheio de cobiça e vaidade, estava cheio do musgo da ansiedade.
Cultivar o contentamento é arrancar a ansiedade pela raiz, retirando dela uma de suas fontes de alimento. E o melhor hábito para cultivar o contentamento é a oração e o cântico de ação de graças: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus” (Fp 4.6).
Quando, pela manhã, louvamos a Deus em gratidão por tudo o que ele nos dá, quando nos exercitamos em enumerar as bênçãos as quais ele nos cercou, e assim percebemos que a terra está cheia da bondade do Senhor, então diariamente dissipamos a neblina confusa que não nos faz enxergar que o Senhor é o nosso pastor e por isso temos tudo de que precisamos.
Confissão de pecados
O medo das consequências do próprio pecado e a própria tristeza por causa dele são outros fatores que podem gerar ansiedade em nosso coração.
Quando adulterou com Bate-Seba e soube que ela estava grávida, Davi perdeu o sono com medo de ser descoberto e das consequências da descoberta. Passou então a arquitetar muitos planos para esconder o seu pecado. Estava ansioso, tinha perdido a alegria e sentia-se com os ossos esmagados por Deus: “Faze-me ouvir de novo júbilo e alegria; e os ossos que esmagaste exultarão” (Sl 51.8).
O cheiro do nosso pecado guardado naquele quarto escondido de nossa mente é como aroma agradável para a ansiedade. Ali ela se alimenta com vontade e deixa escapar seu aroma fétido por todo o corpo. Nosso corpo adoece e a gente não sabe por quê. A gente só sente o cheiro, mas não vê de onde ele vem, pois temos medo de nos aproximar daquele quarto onde deixamos ali um cadáver – o pecado.
Foi isso que o salmista disse: “Enquanto escondi os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer. Pois de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; minha força foi se esgotando como em tempo de seca” (Sl 32.3-4). Foi só quando ele teve coragem para se abrir com Deus e deixar o Espírito Santo fazer a faxina geral, custe o que custar, foi que ele voltou a sentir a paz que excede todo entendimento: “Então reconheci diante de ti o meu pecado e não encobri as minhas culpas. Eu disse: “Confessarei as minhas transgressões ao Senhor”, e tu perdoaste a culpa do meu pecado” (Sl 32.5). E por isso o salmista nos ensina: “Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados! Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa e em quem não há hipocrisia!” (Sl 32.1,2).
Confessar os nossos pecados a Deus não necessariamente nos livrará das consequências do pecado, mas com certeza nos livrará da culpa, pois o Senhor é fiel e justo para nos perdoar e purificar de toda injustiça (1Jo 1.9). Se temos os nossos pecados perdoados, tempos então paz com Deus. A firme convicção de que somos amados retoma em nosso corpo e podemos encarar as consequências do pecado felizes sabendo que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28).
Assim, quando nos humilhamos diante de Deus e clamamos por perdão, quando separamos aquele momento diário de introspecção, abrindo as portas dos armários fechados, revelando nossas falhas, o Espírito Santo nos limpa, nos deixa livres daquele fardo que nos sobrecarregava: “humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido. Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês.” (1Pe 5.6-7).
Súplicas
No início do texto falei que um dos fatores básicos da ansiedade é o mundo complexo em que vivemos. Nesse mundo complicado, não sabemos lidar muito bem com muitas coisas, com a burocracia, com a tecnologia, com as frequentes mudanças daquilo que é aceitável e daquilo que é valorizado em um ambiente de trabalho etc. Portanto, a sensação de incapacidade, de inabilidade e de que não conseguimos ter o domínio sobre a própria vida é constante.
Diante da pressão por frequentes mudanças, dos hábitos de consumo cada vez mais caros, das exigências sociais cada vez mais sufocantes, diariamente precisamos nos lembrar de que o Senhor é quem supre tudo de que precisamos. Frequentemente nos esquecemos de que o Senhor é o nosso pastor, por isso nada nos faltará. Dia a dia somos encorajados a deixar de esperar em Deus, a ter a pressa da vida deste mundo e não andar no tempo de Deus.
Mas os pagãos é que correm atrás dessas coisas. “O que comer”, “o que vestir” e outras preocupações bem menos necessárias são preocupações de quem não tem um Deus a quem esperar. Jesus nos ensinou a não nos preocupar com nada dessas coisas. Nossa grande preocupação é em viver de modo que agrade a Deus.
Porém, ele mesmo nos ensinou a orar assim: “Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia” (Mt 6.11). E Paulo nos ensinou: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus” (Fp 4.6). E o salmista nos encoraja: “Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança. Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração. Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá” (Sl 37.3-5).
Somos encorajados a apresentar-nos diante de Deus com súplicas, com os nossos pedidos e anseios do coração apresentados no temor do Senhor, e ao final de nossos pedidos, dizer: “contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42).
Quando nos ajoelhamos e entregamos a Deus nossos sonhos, anseios e desejos, dissipamos a cobiça, a inveja, o orgulho, a confusão e o medo de um mundo complicado e estendemos as mãos a um Deus que vê acima do labirinto e para além da neblina.
Leitura da Bíblia
Eu comecei o texto mostrando que a confusão que é o mundo em que vivemos é um dos grandes fatores de ansiedade. O mundo que arrancou todas as bases de confiança dos homens: abandonou a confiança em Deus para confiar na razão, abandonou a razão para confiar nos sentimentos, e agora se vê em terreno extremamente movediço, sem certezas, sem convicções, não conhece o mundo, duvida das pessoas e das verdades, está só.
Não é a toa que a ansiedade é um dos grandes males dos nossos dias. As pessoas não sabem o que são, não sabem para que fazem todas as coisas, a vida não tem sentido. Nesse cenário sombrio em que temos que caminhar tateando todos os dias, temos uma maravilhosa arma:
“A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho.” (Sl 119.105).
Diante da escuridão que é o pensamento humano, a Palavra nos revela a verdade em que podemos confiar, ela nos explica o mundo, nos explica o homem, e nos revela um Deus amoroso e um mundo vindouro. Se caminharmos nesse labirinto em que estamos encerrados sem essa Palavra, facilmente nos perderemos, mas a Palavra de Deus é um guia seguro para caminhar.
Todos os dias somos arrastados pelo redemoinho dos ímpios, dos pecadores e dos zombadores. A única maneira de não secarmos nossas folhas é nos alimentarmos com as poderosas armas espirituais dadas por Deus: Ações de graças, quebrantamento, súplicas e meditação na Palavra de Deus. Além de nos alimentar espiritualmente, de nos aproximar de Deus, de tornar pura a nossa conduta, são fortes hábitos que combatem a ansiedade dos nossos dias, pois matam o orgulho, a cobiça, o medo das consequências dos pecados, o sentimento de culpa, o medo das adversidades e dissipam as verdades confusas do nosso tempo.
Não despreze sua vida devocional – ela conduzirá você para uma vida abundante.
Interessante demais!