025 – Quatro hábitos devocionais para combater a ansiedade diariamente

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Ansiedade é um assunto que dispensa apresentações.


Todos conhecemos em maior ou em menor grau os efeitos de sua presença indesejada no coração e na mente. Os motivos que geram a ansiedade, porém, são complexos e envolvem muitos fatores. Podemos falar, de maneira geral, que ela prospera em nossos dias devido a alguns fatores mais básicos, tais como: o aumento da complexidade da vida social; o incentivo e a propaganda de alguns comportamentos pecaminosos específicos; e o descrédito da verdade e o aumento da confusão a respeito do que é certo e errado. 

Quando saímos de casa, entramos em um mundo confuso como um labirinto mergulhado na neblina. A complexidade do mundo contemporâneo nos dá a sensação de sermos incapazes de lidarmos com ele. A incerteza, a confusão, a falta de convicção e a sensação de não termos o controle da vida, todos esses elementos são ingredientes muito desejados pelo bicho da ansiedade.

Dory entrando em um mundo confuso

Apesar do nó intricado que enxergamos quando procuramos os fatores e as causas da ansiedade, gostaria de apresentar alguns hábitos devocionais que são muito simples para ajudar a combatê-la. Os hábitos devocionais podem enganar pela simplicidade, mas não se engane, assim como a simplicidade do bebê na manjedoura, cuja visão simples escondia o maior milagre jamais ocorrido no Universo, o mistério da encarnação, esses hábitos são sobretudo as armas espirituais dadas por Deus, as ferramentas oferecidas por Deus aos seus filhos para lidar com esse mundo tenebroso. É claro que não é uma receita infalível, não é como um remédio para dor de cabeça. Já que lidamos com esse mundo complicado todos os dias, a ansiedade é um mal que deve ser combatido todos os dias.

Cada um dos hábitos devocionais, para além do seu valor próprio, que é aumentar nosso relacionamento com Deus, nos conduzir na santificação, são também meios de combater aquelas fontes alimentares do bicho da ansiedade, matando-o pela raiz.

Vamos a eles.

Orações e cânticos de ações de graças

O orgulho, a vaidade e a cobiça são apresentados pela Palavra de Deus como grandes fontes alimentares da ansiedade. Quando a cobiça corre em nossas veias – pode observar – nas paredes sanguíneas estará lá a ansiedade, parasitando.

O Salmo 131 é um grande exemplo, quando Davi fala a Deus sobre seu próprio coração. Ele começa dizendo: “Senhor, o meu coração não é orgulhoso e os meus olhos não são arrogantes. Não me envolvo com coisas grandiosas nem maravilhosas demais para mim.” (v.1).

Perceba que quem está falando isso é o maior rei de Israel, aquele que ousou derrotar um gigante e desejou construir um templo para Deus. Apesar de sua ousadia corajosa, Davi não almejava essas coisas para si mesmo, e ele não colocava nelas a base para sua vida. A fonte de sua felicidade estava em Deus. Ele tinha contentamento: “De fato, acalmei e tranquilizei a minha alma. Sou como uma criança recém-amamentada por sua mãe; a minha alma é como essa criança.” (v.2). Davi se alegrava com tudo o que Deus lhe dava, por isso estava sempre tranquilo como uma criança satisfeita.

Representação da primeira celebração do Dia de ação de graças

Saul foi muito diferente. Depois que Samuel disse a Saul que Deus o havia rejeitado, ele passa a ser atormentado. Vemos um Saul escravizado pela inveja, pelo medo, pela ira. Ele começa a ter paranoias conspiracionistas e chega muito perto da loucura. Seu coração, cheio de cobiça e vaidade, estava cheio do musgo da ansiedade.

Cultivar o contentamento é arrancar a ansiedade pela raiz, retirando dela uma de suas fontes de alimento. E o melhor hábito para cultivar o contentamento é a oração e o cântico de ação de graças: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus” (Fp 4.6).

Quando, pela manhã, louvamos a Deus em gratidão por tudo o que ele nos dá, quando nos exercitamos em enumerar as bênçãos as quais ele nos cercou, e assim percebemos que a terra está cheia da bondade do Senhor, então diariamente dissipamos a neblina confusa que não nos faz enxergar que o Senhor é o nosso pastor e por isso temos tudo de que precisamos.

Confissão de pecados

O medo das consequências do próprio pecado e a própria tristeza por causa dele são outros fatores que podem gerar ansiedade em nosso coração.

Quando adulterou com Bate-Seba e soube que ela estava grávida, Davi perdeu o sono com medo de ser descoberto e das consequências da descoberta. Passou então a arquitetar muitos planos para esconder o seu pecado. Estava ansioso, tinha perdido a alegria e sentia-se com os ossos esmagados por Deus: “Faze-me ouvir de novo júbilo e alegria; e os ossos que esmagaste exultarão” (Sl 51.8).

O cheiro do nosso pecado guardado naquele quarto escondido de nossa mente é como aroma agradável para a ansiedade. Ali ela se alimenta com vontade e deixa escapar seu aroma fétido por todo o corpo. Nosso corpo adoece e a gente não sabe por quê. A gente só sente o cheiro, mas não vê de onde ele vem, pois temos medo de nos aproximar daquele quarto onde deixamos ali um cadáver – o pecado.

Parte de “Saturno devorando seu filho”, de Francisco de Goya

Foi isso que o salmista disse: “Enquanto escondi os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer. Pois de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; minha força foi se esgotando como em tempo de seca” (Sl 32.3-4). Foi só quando ele teve coragem para se abrir com Deus e deixar o Espírito Santo fazer a faxina geral, custe o que custar, foi que ele voltou a sentir a paz que excede todo entendimento: “Então reconheci diante de ti o meu pecado e não encobri as minhas culpas. Eu disse: “Confessarei as minhas transgressões ao Senhor”, e tu perdoaste a culpa do meu pecado” (Sl 32.5). E por isso o salmista nos ensina: “Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados! Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa e em quem não há hipocrisia!” (Sl 32.1,2).

Confessar os nossos pecados a Deus não necessariamente nos livrará das consequências do pecado, mas com certeza nos livrará da culpa, pois o Senhor é fiel e justo para nos perdoar e purificar de toda injustiça (1Jo 1.9). Se temos os nossos pecados perdoados, tempos então paz com Deus. A firme convicção de que somos amados retoma em nosso corpo e podemos encarar as consequências do pecado felizes sabendo que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8.28).

Assim, quando nos humilhamos diante de Deus e clamamos por perdão, quando separamos aquele momento diário de introspecção, abrindo as portas dos armários fechados, revelando nossas falhas, o Espírito Santo nos limpa, nos deixa livres daquele fardo que nos sobrecarregava: “humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido. Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês.” (1Pe 5.6-7).

Súplicas

No início do texto falei que um dos fatores básicos da ansiedade é o mundo complexo em que vivemos. Nesse mundo complicado, não sabemos lidar muito bem com muitas coisas, com a burocracia, com a tecnologia, com as frequentes mudanças daquilo que é aceitável e daquilo que é valorizado em um ambiente de trabalho etc. Portanto, a sensação de incapacidade, de inabilidade e de que não conseguimos ter o domínio sobre a própria vida é constante.

Diante da pressão por frequentes mudanças, dos hábitos de consumo cada vez mais caros, das exigências sociais cada vez mais sufocantes, diariamente precisamos nos lembrar de que o Senhor é quem supre tudo de que precisamos. Frequentemente nos esquecemos de que o Senhor é o nosso pastor, por isso nada nos faltará. Dia a dia somos encorajados a deixar de esperar em Deus, a ter a pressa da vida deste mundo e não andar no tempo de Deus.

Mas os pagãos é que correm atrás dessas coisas. “O que comer”, “o que vestir” e outras preocupações bem menos necessárias são preocupações de quem não tem um Deus a quem esperar. Jesus nos ensinou a não nos preocupar com nada dessas coisas. Nossa grande preocupação é em viver de modo que agrade a Deus.

Porém, ele mesmo nos ensinou a orar assim: “Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia” (Mt 6.11). E Paulo nos ensinou: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem seus pedidos a Deus” (Fp 4.6). E o salmista nos encoraja: “Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança. Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração. Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá” (Sl 37.3-5).

Somos encorajados a apresentar-nos diante de Deus com súplicas, com os nossos pedidos e anseios do coração apresentados no temor do Senhor, e ao final de nossos pedidos, dizer: “contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42).

Quando nos ajoelhamos e entregamos a Deus nossos sonhos, anseios e desejos, dissipamos a cobiça, a inveja, o orgulho, a confusão e o medo de um mundo complicado e estendemos as mãos a um Deus que vê acima do labirinto e para além da neblina.

Leitura da Bíblia

Eu comecei o texto mostrando que a confusão que é o mundo em que vivemos é um dos grandes fatores de ansiedade. O mundo que arrancou todas as bases de confiança dos homens: abandonou a confiança em Deus para confiar na razão, abandonou a razão para confiar nos sentimentos, e agora se vê em terreno extremamente movediço, sem certezas, sem convicções, não conhece o mundo, duvida das pessoas e das verdades, está só.

“Meditação do filósofo”, Rembrandt

Não é a toa que a ansiedade é um dos grandes males dos nossos dias. As pessoas não sabem o que são, não sabem para que fazem todas as coisas, a vida não tem sentido. Nesse cenário sombrio em que temos que caminhar tateando todos os dias, temos uma maravilhosa arma:

“A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho.” (Sl 119.105).

Diante da escuridão que é o pensamento humano, a Palavra nos revela a verdade em que podemos confiar, ela nos explica o mundo, nos explica o homem, e nos revela um Deus amoroso e um mundo vindouro. Se caminharmos nesse labirinto em que estamos encerrados sem essa Palavra, facilmente nos perderemos, mas a Palavra de Deus é um guia seguro para caminhar.

Dory encontrando o caminho de volta para casa

Todos os dias somos arrastados pelo redemoinho dos ímpios, dos pecadores e dos zombadores. A única maneira de não secarmos nossas folhas é nos alimentarmos com as poderosas armas espirituais dadas por Deus: Ações de graças, quebrantamento, súplicas e meditação na Palavra de Deus. Além de nos alimentar espiritualmente, de nos aproximar de Deus, de tornar pura a nossa conduta, são fortes hábitos que combatem a ansiedade dos nossos dias, pois matam o orgulho, a cobiça, o medo das consequências dos pecados, o sentimento de culpa, o medo das adversidades e dissipam as verdades confusas do nosso tempo.

Não despreze sua vida devocional – ela conduzirá você para uma vida abundante.

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