023 – Por que amamos dinossauros, e como adoramos a Deus através deles

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“Aquilo que encanta e arrebata é sempre bom” – C.S.Lewis

Você é um adolescente da década de 90. Anunciam um filme com efeitos especiais sem precedentes. Nesse filme, prometem dinossauros, aqueles bichos que você só tinha visto em ilustrações de revistas e em figurinhas que vinham no chocolate. Você espera pelo filme. Quando sai, você pega as primeiras sessões, toma as primeiras fileiras. O filme começa. Você está ansioso. Personagens falam, e falam, e explicam, e nada de dinossauro. Até que finalmente os personagens são dirigidos por um jipe a um campo aberto. O ritmo diminui e você sabe que alguma coisa vai acontecer. De repente, as câmeras se aproximam do Dr. Alan Grant. Ele tira o chapéu, ergue-se do banco tenso, tira os óculos. A câmera se demora em seu rosto espantado. As mãos do paleontólogo forçam uma Ellie Satlher distraída a virar o rosto. Ela tira os óculos e se ergue no mesmo espanto. A música tema do filme, que se tornará memorável, cresce. E, naquele momento, o diretor joga sobre nós um plano aberto de um imenso braquiossauro de um realismo jamais visto se esforçando para mover seu corpo descomunal para alcançar o topo de uma árvore imensamente alta. Pronto. Você testemunhou uma das cenas mais memoráveis do cinema das últimas décadas e, talvez, (considerando ainda o fato de você estar lendo esse texto) quero apostar que quando assiste essa cena ainda hoje seus olhos lacrimejam.

Por que gostamos de dinossauros? Seria só a nostalgia da infância, dos brinquedos, filmes e desenhos? Quero mostrar aqui neste artigo despretensioso que há algo por trás desse fascínio que vai além do mero entretenimento, que se mistura com o próprio significado da arte e aponta para Deus. Cheguei nisso após ruminar um dos artigos de C.S.Lewis, “Sobre ficção científica”, publicado em “Sobre histórias“.

Vamos apresentar três motivos do porquê amamos dinossauros e como adoramos a Deus quando com eles nos encantamos. O primeiro motivo pelo qual amamos dinossauros é por causa do mistério sobre o seu mundo.

1) O mistério que desperta a curiosidade

Há certo provérbio no livro de Salomão que diz assim: “A glória de Deus é ocultar certas coisas; tentar descobri-las é a glória dos reis” (Pv.25.2). Deus é glorificado no mistério sobre o seu mundo criado. Nunca esgotaremos o conhecimento sobre o mundo. Não temos dimensão do total conhecimento inscrito na engenharia da criação, sendo assim, mal podemos perscrutar o conhecimento de Deus. Quando nos aproximamos das beiras do mar sombrio daquilo que não conhecemos, só podemos admirar e nos espantar, só podemos dar passos suspeitos e temerosos. Mas cheios de encanto e curiosidade.

Lewis, tratando daquilo que ele chama de “ficção científica de engenheiros”, aquela mais voltada para a tecnologia, diz: “quando aprendemos com as ciências a natureza provável de lugares ou condições que nenhum ser humano experimentou, há em homens normais, um impulso para tentar imaginá-las” (p.110).

Quando os dinossauros foram descobertos foi como se tivéssemos descoberto outro mundo. A descoberta dos dinossauros foi além da descoberta de outras civilizações, por exemplo. Não descobrimos algo que nós mesmos construímos no passado. Ou seja, não descobrimos algo do nosso mundo. Descobrimos algo de um outro mundo. Dinossauros são o mais próximo dos alienígenas que já chegamos. Como é possível que seres tão diferentes um dia caminharam sobre o mesmo solo que hoje caminhamos?

É essa curiosidade sobre esse mundo desconhecido que nos fascina. Quando essa curiosidade contamina um homem criativo e talentoso, ele cria uma obra de ficção. E através dessa obra todos nós ficamos ainda mais fascinados.

Mas não é só o mistério que nos fascina nos dinossauros, mas também a sua grandeza.

2) A grandeza que nos dá espanto

Quando C.S. Lewis trata de outro tipo de ficção científica, a qual ele chama de “escatológica”, ele diz: “É sóbrio e catártico lembrar, de vez em quando, nossa pequenez coletiva, nosso aparente isolamento, a aparente indiferença da natureza, os lentos processos biológicos, geológicos e astronômicos que podem, no longo prazo, tornar ridículos muitas de nossas esperanças” (p.114).

Os dinossauros não são apenas misteriosos. São, pelo menos os mais conhecidos, feras selvagens enormes se comparadas com o nosso mundo natural atual. Estamos falando de outras dimensões de mundo natural. E estamos falando de “lagartos terríveis”, aludindo à origem do nome dinossauro.

Quando olhamos para a narrativa da criação, é curioso notar que Deus faz uma distinção entre animais selvagens e animais domésticos: “Deus fez os animais selvagens de acordo com as suas espécies, os rebanhos domésticos de acordo com as suas espécies, e os demais seres vivos da terra de acordo com as suas espécies. E Deus viu que ficou bom” (Gn.1.25). Deus fez animais que serviriam o homem, mas também fez animais cujos limites não poderiam ser ultrapassados pelo homem, ele os fez selvagens por natureza.

O pavor é terapêutico para uma humanidade orgulhosa. Ter animais selvagens que circundam a aldeia deixa os homens vigilantes, lembram-os de sua pequenez, fraqueza, incapacidade diante da natureza. O temor nos mantêm humildes.


Quando o justo Jó começou a praguejar contra Deus, cobrando-lhe explicações sobre suas decisões sobre a humanidade, Deus apareceu numa tempestade e falou. Mas não respondeu nada para Jó. O objetivo do discurso de Deus era lembrá-lo da grandeza de Deus, era fazê-lo voltar ao temor piedoso e à sabedoria. Como ele fez isso? Deus descreveu as grandezas de sua criação. Deus propôs a Jó um esforço imaginativo para contemplar a dignidade do Criador através das dimensões monumentais da criação. E entre as obras de sua criação as quais Deus se orgulhava, parece que havia ali um dinossauro: “Veja o Beemote que criei quando criei você e que come de capim como o boi. Que força ele tem em seus lombos! Que poder nos músculos do seu ventre! A cauda dele balança como o cedro; os nervos de suas coxas são firmemente entrelaçados. Seus ossos são canos de bronze, seus membros são varas de ferro. Ele ocupa o primeiro lugar entre as obras de Deus. No entanto, o seu Criador pode chegar a ele com sua espada” (Jó 40.15-19).

Esse tal de Beemote tem características únicas que se assemelham a um dinossauro. Ele é herbívoro, tem força enorme, tem caldas semelhantes a troncos de árvore, seus membros são duros. Ora, esse animal não lembra o braquiossauro do início do filme Jurassic Park? Pode não ser, mas poderia ser. Pode ser o Apatassauro. Sua calda, ao ricochetear, quebrava a barreira do som! E olha o que Deus diz a respeito dele: “ocupa o primeiro lugar entre as obras de Deus”. Mas, afinal, qual o ponto de Deus? O que Deus estava falando? Era isso: “No entanto, o seu Criador pode chegar a ele com sua espada”.

Encontre na terra o ser mais terrível, mais feroz, mais forte. Pois ele não é nada diante de Deus! E qual o papel dos dinossauros? Se não houvessem eles, nossas dimensões seriam muito pequenas para chegar a Deus. Quando escavamos dinossauros, nossa dimensão do mundo natural se expande e ficamos ainda mais encantados com Deus, e suspiramos: Ele é maior.

3) A beleza que nos deslumbra

É muito interessante notar que as razões de amarmos dinossauros se encontra com as próprias funções da arte: mistério, grandeza e beleza. Sim, os dinossauros possuem aquela beleza difícil de ser explicada. Se nos déssemos diante de um gigante estegossauro, só uma palavra descreveria: Uau!

Ainda sobre ficção científica, Lewis escreve que ela “representa um impulso imaginativo tão antigo quanto a humanidade operando sob as condições especiais de nosso próprio tempo. Não é difícil ver por que aqueles que desejam visitar regiões estranhas em busca de beleza, admiração ou terror não fornecidos pelo mundo real foram cada vez mais conduzidos a outros planetas ou a outras estrelas” (p.115).

De certa forma, tanto a arte quanto os dinossauros nos oferecem uma beleza e um encantamento que não são oferecidos pelo mundo presente, e essa beleza, tanto da arte quanto dos animais pré-históricos, resplandecem a multiforme beleza e criatividade de Deus. Quando nós a buscamos, é por sede de Deus. Nossa pele precisa desse calor e desse brilho, nossa imaginação está faminta pela totalidade e multiforme beleza de Deus.

Assim, ao falarmos de dinossauros, de certa forma tocamos nos dois aspectos manifestados da beleza de Deus: a natureza e a cultura. A natureza, pois são seres reais, que já andaram pela terra, criaturas de Deus; e cultura, pois os contemplamos por um esforço imaginativo.

Por tudo isso, pelo mistério, pela grandeza, pela beleza, somos convidados a adora a Deus como o salmista: “Grandes são as obras do Senhor; nelas meditam todos os que as apreciam. Os seus feitos manifestam majestade e esplendor, e a sua justiça dura para sempre” (Sl.111.2-3).

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