“Esteja ciente da grande reação que ocorrerá depois que você aprender a língua e ficar cansado, exausto de pregar o evangelho para um povo desobediente e contraditório. Às vezes, você ansiará por um retiro silencioso no qual possa ter um descanso do esforço de labutar em uma obra nativa – a incessante, intolerável fricção do árduo trabalho missionário”.
Adoniran Judson, missionário na Birmânia, escreveu essa carta não muito encorajadora aos missionários que ingressavam em sua missão, em 25 de junho de 1832. Ele estava se referindo ao cansaço na vida do missionário, que é tantas vezes subestimado.
O esgotamento físico, emocional e espiritual está à espreita do missionário que trabalha apaixonadamente em sua obra. Sofia Muller, missionária entre povos indígenas na Amazônia, escreveu:
“Para o bem deles eu precisava me manter animada, especialmente nas horas em que me sentia tão esgotada. Eu caminhava sozinha numa trilha atrás da aldeia, para agradecer e pedir o socorro de Deus antes de cada reunião. ‘Ó, Deus, sinto-me cansada e miserável. Deixa-me sentir Tua presença comigo. Dá-me poder hoje para que almas vejam a Ti enquanto Tua Palavra vai sendo proclamada a fim de que nasçam no Teu Reino’”.
Ashbell Green Simonton, missionário pioneiro no Brasil, escreveu em seu diário, após uma de suas pregações ao povo: “Tive novas experiências de minha própria fraqueza e impotência, e necessidade da graça divina”, e mais a frente: “Pressionado com problemas da casa, com a necessidade de recursos para o bebê e com a preocupação da Imprensa, sentia-me exausto e acabado.”
A exaustão no trabalho de Deus é tão presente que uma das ordens mais repetidas a líderes na Bíblia é que sejam fortes. Quando Josué foi colocado como líder do povo de Israel, Deus o disse: “Seja forte e corajoso, porque você conduzirá este povo para herdar a terra que prometi sob juramento aos seus antepassados” (Js.1.6). Davi, ao transmitir o desafio de construir o Templo ao filho Salomão, disse: “Seja forte e corajoso! Mãos ao trabalho! Não tenha medo nem desanime, pois Deus, o Senhor, o meu Deus, está com você. Ele não o deixará nem o abandonará até que se termine toda a construção do templo do Senhor” (1Cr.28.20). Ezequias, diante da ameaça de Senaqueribe, disse aos seus militares: “Sejam fortes e corajosos. Não tenham medo nem desanimem por causa do rei da Assíria e do seu enorme exército, pois conosco está um poder maior do que o que está com ele” (2Cr.32.7). O salmista convoca o povo: “Sejam fortes e corajosos, todos vocês que esperam no Senhor!” (Sl.31.24). O apóstolo Paulo, aos Coríntios, também os encorajou a serem fortes: “Estejam vigilantes, mantenham-se firmes na fé, sejam homens de coragem, sejam fortes” (1Co.16.13).
Aliás, é o próprio Paulo quem nos faz entender melhor de que tipo de força todos estes versículos falam. Aos Efésios, Paulo ora: “para que, com as suas gloriosas riquezas, ele os fortaleça no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito” (Ef.3.16) e, mais a frente, ordena: “Finalmente, fortaleçam-se no Senhor e no seu forte poder” (Ef.6.10). A Timóteo, diz: “Você, meu filho, fortifique-se na graça que há em Cristo Jesus” (2Tm.2.1). Paulo nos faz lembrar que essa força não é força própria, muito pelo contrário: “Mas ele me disse: ‘Minha graça é suficiente a você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza’. Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas (…) Pois, quando sou fraco, é que sou forte” – 2Co.12.9-10.
Ana, mãe de Samuel, nos lembra em seu cântico: “O arco dos fortes é quebrado, mas os fracos são revestidos de força” (1Sm.2.4). Pedro, por sua vez, nos instrui em (1aPe.4.11): “Se alguém serve, faça-o com a força que Deus provê, de forma que em todas as coisas Deus seja glorificado mediante Jesus Cristo”. Em toda a Bíblia, a força que era exigida dos trabalhadores da seara de Deus não era força própria, mas a força do Senhor e do seu forte poder, aquela que nos coloca de pé quando nos lançamos em Deus, aquela que nos fortalece quando nos enfraquecemos. Aquela que conquistamos em oração, em devoção e confiança no Senhor
Oramos a Deus pelo nosso sustento diário, por sabedoria, por direção, pelos frutos do nosso trabalho. No entanto, muitas vezes, nos esquecemos de buscar no Senhor a força diária, como fez o salmista: “fortalece-me conforme a tua promessa” (Sl.119.28), ou como Sansão: “Ó Deus, eu te suplico, dá-me forças, mais uma vez” (Jz.16.28). Esquecemos que é ele que “fortalece o cansado e dá grande vigor ao que está sem forças” (Is.40.29) e que “é o Deus de Israel que dá poder e força ao seu povo” (Sl.68.35), ou outro salmista: “Quando clamei, tu me respondeste; deste-me força e coragem” (Sl.138.3). E a certeza que temos é que “os olhos do Senhor estão atentos sobre toda a terra para fortalecer aqueles que lhe dedicam totalmente o coração” – 2Cr.16.9.
Por isso Paulo escreve a Timóteo: “Você, meu filho, fortifique-se na graça que há em Cristo Jesus” – 2Tm.2.1.
Sabemos que o Senhor fortalece todos aqueles que o buscam, mas queria convidá-los a observar como essa verdade pode ser aplicada ao ministério do apóstolo Paulo, do início ao fim de seu ministério. A força que agia em Paulo era tão inexplicável quanto a de Sansão e deveria deixar aqueles que com ele convivia como os filisteus diante do juiz de Israel, desejando buscar o segredo de tal força.
O apóstolo nos testemunha que foi a força de Deus, e não a sua própria, que o fez iniciar o ministério: “Dou graças a Cristo Jesus, nosso Senhor, que me deu forças e me considerou fiel, designando-me para o ministério” – 1Tm.1.12.
O início do ministério de Paulo não seria outro se não fosse pela força de Deus. Por sua própria força, Paulo buscou iniciar seu ministério em Damasco e em Jerusalém, em vão, sendo rejeitado e tendo que esperar mais de 10 anos. Nesse período, Paulo teve de aprender a depender do Senhor e ser por ele fortalecido. Mas, quando finalmente chegou o dia, Deus lhe deu as forças necessárias.
Mas não foi apenas no início do ministério que Paulo continuou a ser fortalecido pelo Senhor. É verdade que muitos de nós somos muito fortes quando começamos o ministério. Estamos com grandes expectativas, com energia, com ânimo. Mas o tempo é assassino do ânimo, e quantos de nós caímos pelo caminho. Mas Paulo nos testemunha: “Para isso eu me esforço, lutando conforme a sua força, que atua poderosamente em mim” (Cl.1.29). Paulo testemunha do fortalecimento de Deus durante todo o seu ministério: “Não me atrevo a falar de nada, exceto daquilo que Cristo realizou por meu intermédio em palavra e em ação, a fim de levar os gentios a obedecerem a Deus: pelo poder de sinais e maravilhas e por meio do poder do Espírito de Deus. Assim, desde Jerusalém e arredores, até o Ilírico, proclamei plenamente o evangelho de Cristo” (Rm.15.18-19). Paulo reconhece que não foi a sua força, mas foi o poder de Deus que o capacitou para levar o evangelho “desde Jerusalém e arredores, até o Ilírico”. Para quem sabe o custo pessoal do evangelista de uma única alma para Cristo, sabe que essa faixa evangelizada por Paulo foi um feito prodigioso de Deus.
No entanto, Paulo nos testemunha do fortalecimento de Deus até nos seus últimos dias de vida, já velho, sozinho, com frio, preso e abandonado pelos amigos: “Mas o Senhor permaneceu ao meu lado e me deu forças, para que por mim a mensagem fosse plenamente proclamada e todos os gentios a ouvissem” (2Tm.4.17). Paulo deixa um último ensino para Timóteo: O “Senhor permaneceu ao meu lado e me deu forças” até os últimos dias da sua vida.
O Senhor que fortaleceu Paulo é o mesmo Senhor que fortaleceu Sansão em sua vitória solitária contra mil filisteus; é o mesmo que fortaleceu Davi contra o Golias; é o mesmo que fortaleceu Lutero, que traduziu o Novo Testamento do grego em poucos meses; é o mesmo que fortaleceu Calvino, que mesmo em meio a doenças e a muitas tribulações, possui uma produção prodigiosa de exposição bíblica até mesmo para os padrões atuais; o mesmo que fortaleceu William Carey, que deixou um legado de 26 igrejas, 126 escolas com 10 000 alunos, auxílio na tradução das Escrituras em 44 línguas, gramáticas e dicionários, a primeira missão médica na Índia, seminários, escola para meninas, e o jornal na língua Bengali. O Senhor é um Deus que ainda realiza prodígios por intermédio daqueles fracos o suficiente para escoar a força do Seu poder.
Missionários, teremos desânimos, fraquezas e esgotamentos em nossas caminhadas. Mas sejamos fortes e corajosos, erguidos pela força do poder de Deus em nós.