A gente se surpreende com o contraste das pessoas consideradas de sucesso ao nosso redor das pessoas consideradas fiéis e segundo o coração de Deus, na Bíblia. Muitos dos homens de sucesso de hoje serão reprovados pela Palavra de Deus.
Esse foi o caso de Saul. Enquanto ele estava vivo, o livro de Samuel que retrata sua vida ainda não estava escrito e portanto Israel não tinha as explicações dos acontecimentos. Se Israel compartilhasse dos mesmos valores contemporâneos, Saul certamente seria capa de revista.
Saul tem todas as características de um herói nacional, a começar por sua origem. A história dele, vista pelos olhos de alguém de fora, é a famosa história do menino pobre que chegou ao poder pelos méritos pessoais.
Ok, Saul não era um menino pobre, mas rico (1Sm.9.1). No entanto, pertencia a uma família insignificante em Israel, e esse apelo é tão ou até maior do que a riqueza naqueles dias. Veja a surpresa de Saul quando Samuel diz a ele que será rei: “Porventura não sou eu filho de Benjamim, da menor das tribos de Israel? E a minha família a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que, pois, me falas com semelhantes palavras?” – 1Sm.9.21.
Além desse apelo da tribo inferior, diz o texto que Saul era belo: “moço, e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro homem mais belo do que ele” (1Sm.9.2). Ele era um galã!
Em seguida, vemos Saul como um grande guerreiro, vencendo a batalha contra os amonitas e finalmente sendo proclamado rei por todo o povo (1Sm.11.1-11). Saul era um herói nacional. Mas não para por aí. Quero apresentar pelo menos quatro atitudes de Saul que o fariam manchete.
1) Porque era um líder pró-ativo em situações de stress.
Jônatas, filho de Saul, havia derrotado os filisteus em Gibeá, e os filisteus se juntaram furiosos contra Israel. Era um grande e poderoso exército, e por isso Israel temeu (1Sm.13.5-7). O povo estava dispersando e apenas uma coisa encorajaria o povo para a batalha: a confirmação da vitória vinda de Deus. Por isso, antes de enfrentar os filisteus, Saul aguardou Samuel para oferecer os sacrifícios. No entanto, Samuel se atrasou, e o rei esperou por sete dias.
Você até poderia imaginar os colunistas das revistas falando desses intelectuais e religiosos que nada entendem de guerra. São incompetentes e não estão preocupados com o povo, mas ficam enfurnados em seus escritórios cercados de livros antigos sem ligação com a realidade. Saul não, Saul estava com o povo, estava na frente da batalha, até seu filho estava lá também. Ele tinha que liderar seu povo para a vitória. O seu povo estava amedrontado e estava se dispersando.
Ele precisava tomar uma decisão e não aguardar pela boa vontade do religioso que nada entendia de guerra.
Por isso, Saul sacrifica em lugar de Samuel para inspirar o seu povo, pois Saul era um líder que tinha coragem para tomar decisões difíceis sob pressão de maneira pró-ativa.
No entanto, o que as revistas não falariam, é que Deus se zangou profundamente com Saul: “Disse Samuel: ‘Você agiu como tolo, desobedecendo ao mandamento que o Senhor seu Deus lhe deu; se você tivesse obedecido, ele teria estabelecido para sempre o seu reinado sobre Israel. Mas agora seu reinado não permanecerá; o Senhor procurou um homem segundo o seu coração e o designou líder de seu povo, pois você não obedeceu ao mandamento do Senhor’” – 1Sm.13.13-14.
Há momentos que não podemos ceder ao stress para tomar decisões precipitadas que não agradam ao Senhor. Não podemos colocar os resultados acima dos mandamentos do Senhor. Saul não entendeu isso, por isso, hoje em dia, ele seria capa de revista!
2) Porque era um governante misericordioso com os fracos.
O Senhor ordenou a Saul que saísse em campanha contra os amalequitas, para eliminá-los de sobre a terra. Disse o Senhor: “Agora vão, ataquem os amalequitas e consagrem ao SENHOR para destruição tudo o que lhes pertence. Não os poupem; matem homens, mulheres, crianças, recém-nascidos, bois, ovelhas, camelos e jumentos’” (1Sm.15.3). Saul, que era um governante fiel, imediatamente pega seu exército e desbarata os amalequitas. No entanto, sendo um governante compassivo, paciente e misericordioso “Saul e o exército pouparam Agague e o melhor das ovelhas e dos bois, os bezerros gordos e os cordeiros. Pouparam tudo que era bom, mas a tudo que era desprezível e inútil destruíram por completo” (1Sm.15.9). Saul poupou o rei fraco. Era um exemplo de compaixão este Saul! Ele obedeceu ao seu Deus, e ainda ensinou ao seu povo sobre misericórdia! Certamente, hoje Saul seria um governante exemplar!
No entanto, o que as revistas não relatariam era a desobediência de Saul: “Diz o texto: Então o Senhor falou a Samuel: “Arrependo-me de ter constituído a Saul rei, pois ele me abandonou e não seguiu as minhas instruções” (1Sm.15.10-11).
Saul não cumpriu completamente a ordem de Deus, cumpriu apenas a metade. Às vezes, valores contemporâneos que a princípio tem uma aparência de piedade, de boa obra, podem ser uma grave desobediência aos princípios bíblicos.
Quem segue os princípios bíblicos dificilmente será capa de revista!
3) Porque era um pai amoroso que se preocupa com o futuro dos filhos.
Saul fora proclamado rei de Israel e não um mero juiz. Ele havia conquistado o respeito do povo e estabelecido sua dinastia. Ele tinha sido proclamado rei pelo povo, pois tinha carisma e vencera batalhas. Porém, mais do que isso, seu filho Jônatas, seu sucessor natural, também lutara e havia conquistado grandes vitórias para Israel.
Até que certo sujeitinho em quem Saul havia investido tanto em sua carreira musical (1Sm.16.14-23) e em sua carreira militar (1Sm17.31-38), agora estava adquirindo proeminência em Israel, e corria riscos reais de ser proclamado rei e até de dividir o reino. Saul não poderia permitir isso. Não poderia perder o patrimônio que conquistara para seu filho e sua descendência para um rapazinho.
Observe o que Saul fala, irado, com seu filho, por se aproximar de Davi: “Filho de uma mulher perversa e rebelde! Será que eu não sei que você tem apoiado o filho de Jessé para sua própria vergonha e para vergonha daquela que o deu à luz? Enquanto o filho de Jessé viver, nem você nem seu reino serão estabelecidos. Agora mande chamá-lo e traga-o a mim, pois ele deve morrer!” (1Sm.20.30-31). Perceba a preocupação deste pai amoroso, mesmo tendo um filho que trama contra o próprio reino. Saul é um pai que quer ver seu filho um rei como ele. Saul estava lutando por aquilo que tinha conquistado, especialmente por causa de seu filho e sua família. Era um pai exemplar!
No entanto, o que as revistas esconderiam era que Deus já estava distante de Saul por causa da sua desobediência. Na verdade, Saul não lutava contra Davi, mas contra a vontade de Deus. Saul deixa seu povo de lado e passa a lutar por seus próprios interesses. Aqueles que colocam Deus em primeiro lugar não vão para as capas de revistas nem se tornam o homem do ano. Mas aqueles que lutam pela promoção pessoal, ou por uma causa que não seja a de Deus, mesmo que aparentemente justa, como a da família, estes sim poderão muito bem serem grandes destaques nacionais!
4) Porque era um homem sem preconceitos religiosos.
Saul, definitivamente, não foi um rei intolerante, que perseguia as outras religiões minoritárias. Muito pelo contrário. Houve certa vez que, inclusive, fez uso de uma religião minoritária.
Novamente em guerra contra os filisteus, Saul não tinha mais a Samuel para consultar ao Senhor, pois ele havia morrido.
Além do mais, Deus não respondia a Saul. Deste modo, mais uma vez, Saul não deixa seu povo sem revelação e vai buscá-la com uma feiticeira em En-Dor (1Sm.28). Saul valorizou a cultura e a região local.
As revistas tinham muito o que falar de Saul: ele era um grande líder, um grande rei, um grande pai e um grande religioso. No entanto, o que as revistas não contarão a você, é que:
“O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração” – 1Sm.16.7.
Aparentemente, Saul tinha sido um homem de admirar. No entanto, por trás de sua boa aparência e pretenso zelo, havia um pragmatismo que levou Saul à ruína. Saul errou quando não esperou Samuel chegar na batalha, mas também errou quando foi buscá-lo a qualquer custo, com uma feiticeira, pois o centro deste coração era o pragmatismo, que o levou a ser religioso quando lhe convinha, e infiel quando não lhe convinha. O seu pragmatismo revelava que mesmo quando agia com aparente zelo religioso, o que estava preocupado era com a própria imagem e consigo próprio:
“Pequei”, disse Saul. “Violei a ordem do Senhor e as instruções que você me deu. Tive medo dos soldados e lhes atendi. Agora eu lhe imploro, perdoe o meu pecado e volte comigo, para que eu adore o Senhor”. Samuel, contudo, lhe disse: “Não voltarei com você. Você rejeitou a palavra do Senhor, e o Senhor o rejeitou como rei de Israel!’ (…) Saul repetiu: “Pequei. Agora, honra-me perante as autoridades do meu povo e perante Israel” – 1Sm.15.24-31.
Que o Senhor nos livre do pragmatismo, que nada mais é que ter a si próprio como ídolo. Que possamos nos esforçar a ver como o Senhor, e seguir àqueles que seguem os caminhos do Senhor, e não aqueles que são bajulados pela sociedade.