“Esforcem-se para ter uma vida tranquila, cuidar dos seus próprios negócios e trabalhar com as próprias mãos, como nós os instruímos; a fim de que andem decentemente aos olhos dos que são de fora e não dependam de ninguém.” (1Ts 4.11-12).
As paredes de madeira mantinham a temperatura matinal aconchegante, embora o piso de cimento estivesse frio. Os móveis rangiam, como sempre fizeram, diante do passar de três gerações da família. O galo cantou lá fora, e a avó já fazia o café, com aquele coador de pano escurecido pelo número de cafés já feito. Ela já havia lido sua Bíblia, livro em que aprendeu a ler, e o único já lido, vezes sem conta. Também já havia orado pelos filhos e netos – todos na igreja, não sem muita luta. O galo então silenciava para ouvi-la, ali, sozinha, cantarolando: “Bem de manhã, embora o céu sereno…”
Gente demais não tem ideia do que é a vida cristã. O que há entre nós, evangélicos, é uma cultura de celebridade, de culto-evento e de egocentrismo. Mas a Bíblia apresenta a vida cristã como de outra natureza. Quando Paulo fala para buscarmos as coisas do alto (Cl 3.2), por exemplo, ele aplica a vida cristã à rotina da vida (Cl 3.12-13). A verdadeira vida cristã, de fato, é um desmamar do mundo e um mergulho na trivialidade da vida com a expectativa da ressurreição.
É quando o maior prazer do domingo é a comunhão com a igreja, a adoração congregacional, a pregação bíblica edificando o corpo. É quando o maior deleite do dia é a meditação da Palavra de Deus e a oração sincera diante do Senhor. É quando, no trabalho, você é destacado não pela ambição de ganhar o mundo e perder a alma, mas pela mansidão, pela honestidade, pelo humor puro e pela dedicação.
É quando, no casamento, não há sombra de adultério ou de divórcio, pois brilha a fidelidade e o amor estável por causa da graça de Deus derramada dia a dia. É quando vocês se mantêm de mãos dadas até aquele dia, quando você procurar a outra mão ao acordar e se lembrar que ela já foi para aquele lugar de onde não se volta mais, para onde um dia você irá também.
É quando os filhos são criados com amor e disciplina, e a vida cristã é ensinada não na escola, nem na igreja, mas no culto doméstico e na vida familiar diária. Até aquele dia quando, já avós, vocês testemunharem seus filhos levando seus netos para o batismo, agora seguros de que a Aliança se manteve na geração seguinte.
É quando o relacionamento com Deus cresce, não nos arroubos de fé rasa dos cultos melodramáticos, mas no ritmo em que a semente vira árvore, aprofundando as raízes e só depois apontando para o céu. Crescendo até que as sobrancelhas embranqueçam, até aquele dia em que o galo cantará sozinho, e você estará no único lugar em que desejou estar, lá, de onde não se volta mais.