Abraão – pai da fé e amigo de Deus

Posted by

Por volta de 2100 aC, um próspero caldeu da politeísta Mesopotâmia recebeu uma promessa do Deus Altíssimo de que, mesmo sua esposa sendo estéril, ainda assim teria tantos filhos quanto as estrelas do céu e de que geraria uma nação que beneficiaria todas as outras nações do mundo. Para isso, ele precisaria confiar em Deus a ponto de partir para uma jornada com sua família para uma terra erma e selvagem, enfrentando o deserto, a fome, a guerra e, principalmente, a própria falta de fé diante da espera pelo cumprimento da promessa.

No processo, no entanto, Abraão seria transformado por Deus, não apenas tendo o seu nome mudado, mas também se tornando amigo de Deus e o pai da fé, sendo um modelo para todos nós de uma fé que conduz à obediência, e de uma obediência que é provada pela fé.

1) De onde veio Abraão

Depois que a família de Noé saiu da arca, seus três filhos, Sem, Cam e Jafé, tiveram muitos outros filhos, e todos eles se afastaram de Deus. O ponto culminante dessa rebeldia ocorreu quando decidiram construir uma grande torre idólatra, de modo que não se espalhassem pela terra, contrariando o que Deus havia ordenado.

Assim, Deus viu que, se eles permanecessem juntos, a maldade do coração deles iria crescer cada vez mais, até o ponto de que não houvessem mais justos e tementes a Deus. Por isso, o Senhor decidiu separá-los em línguas e nações por toda a terra.

Mas esse não era o fim do plano. Havia uma promessa que precisava ser cumprida. Aquela – de que um filho de uma linhagem fiel de Eva pisaria a cabeça da serpente e acabaria com o mal. A linhagem de Sete manteve a fidelidade a Deus, e dessa linhagem Deus havia separado Noé. Agora, a linhagem de Sem foi a escolhida para receber a herança da promessa de Deus, e o Senhor seria o Deus deles (Gn 9.26).

Dessa família, um homem foi escolhido para começar um povo exclusivo para Deus.

a) Uma família enrolada

Abrão é da linhagem de Sem, um dos filhos de Noé e o patriarca de todos os semitas. Entre Sem e Abrão passam-se 10 gerações, segundo Gn. 11.10-30. A quarta geração é a de Héber, patriarca dos hebreus. A nona geração é a de Terá, pai de Abrão.

A família é enrolada. Terá teve três filhos: Harã, Naor e Abrão. Harã, por sua vez, foi pai de Milca e de Ló. Quando Harã morreu, a responsabilidade pelos filhos foi dividida entre os irmãos. Por isso, a filha Milca casou-se com o tio Naor, como era costume na época. Já o filho Ló ficou aos cuidados do outro tio, Abrão.

Mas Terá tinha outra filha com outra mulher. seu nome era Sarai, meia-irmã de Abrão, que acabou tornando-se esposa dele e sua companheira de jornada numa grande aventura de fé.

b) A saída de Ur dos caldeus

“O Deus da glória apareceu a Abraão, nosso pai, quando estava na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, e lhe disse: Sai da tua terra e da tua parentela e vem para a terra que eu te mostrarei” (At 7.2-4) (1).

Segundo a cronologia que seguimos, Abrão teria nascido por volta de 2166 aC (2) em Ur dos Caldeus.

O arqueólogo britânico Leonard Wooley desenterrou as ruínas de Ur (no Iraque) entre 1920-1930. Suas descobertas revelaram que a região na foz do rio Eufrates era, na verdade, uma grande cidade-estado da Suméria. Inúmeras placas cuneiformes escritas em sumério e em acadiano (línguas que provavelmente Abrão falava e escrevia) registram a vida comum de Ur, mostrando que a cidade era um próspero centro comercial e de agricultura. Não foi fácil para a família de Abrão deixar aquela cidade.


T. E. Lawrence (à esquerda) com o arqueólogo Leonard Woolley no Herald’s Wall durante a escavação de Carchemish em 1911

Mas a descoberta mais importante de Wooley foi o Grande Zigurate de Ur. Um santuário gigantesco em forma de pirâmide centralizando a adoração ao deus-lua Nana. Esse Zigurate, construído pelo grande Ur-Nammu (também divinizado em vida) na Terceira Dinastia de Ur, mostra como a região era idólatra. Curioso notar que esse mesmo Zigurate foi construído com o betume, mesma tecnologia usada para a construção da torre de Babel. A confusão e a rebeldia ao Senhor perseveravam nas nações espalhadas em toda a terra.

Sendo a família de Abrão dessa mesma região, não seria diferente com eles –  a idolatria fazia parte de sua família (Js.24.2).


Zigurate de Ur dos Caldeus, que usa a tecnologia do betume

Foi nesse contexto, em Ur dos Caldeus, que Deus se revelou a Abrão, segundo At 7.2-4. Foi ali, na “casa” de Nana, o deus-lua, que o Deus Altíssimo falou:

“Então o Senhor disse a Abrão: “Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção. Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados” (Gn 12 1-3).

Deus precisava separar o homem de quem viria o povo exclusivo, que deveria ser santo e adorar ao único Deus Altíssimo.

Mesmo assim, não foi de Abrão a iniciativa de sair da cidade. Foi Terá que guiou a família, talvez logo depois que o filho Harã morreu. O objetivo era seguir para a longínqua Canaã. No entanto, pararam no meio do caminho e estabeleceram-se em uma cidade que acabou ganhando o nome do filho morto.

“Terá tomou seu filho Abrão, seu neto Ló, filho de Harã, e sua nora Sarai, mulher de seu filho Abrão, e juntos partiram de Ur dos caldeus para Canaã. Mas, ao chegarem a Harã, estabeleceram-se ali.” (Gn 11.31).

Segundo um texto apócrifo da tradição judaica chamado de Livro dos Jubileus, Abrão já se incomodava com a idolatria de sua família e pedia ao Deus Altíssimo que o mantivesse puro e temente. Diante disso, Abrão teria posto fogo durante a noite em um dos templos pagãos. Segundo o apócrifo, quando o irmão Harã viu o templo pegando fogo, correu para apagar as chamas e acabou morrendo entre elas. Segundo o essa mesma fonte, foi por causa dessa tragédia que o pai Terá decidiu tirar a família da cidade.

De todo modo, diz o livro de Gênesis que foi Terá quem iniciou as peregrinações da família de Abrão.

2) As primeiras peregrinações

“Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu e dirigiu-se a um lugar que mais tarde receberia como herança, embora não soubesse para onde estava indo.” (Hb 11.8).

Abrão havia recebido uma promessa de Deus de que teria filhos e de que teria uma terra. Mas até agora só havia recebido perdas. Perdeu o seu irmão Harã, e agora o seu pai. Aos 75 anos, sua esposa ainda não o havia dado filhos.

As grandes nações conhecidas no tempo de Abrão eram aquelas da região da Mesopotâmia, onde ele estava, e aquelas longínquas, no Egito. Entre elas havia apenas tribos selvagens e lugares ermos. Para onde Deus iria levá-lo?

Pela fé, Abrão pegou sua família e obedeceu, seguindo para a terra prometida.

a) Na cidade de Harã

Quando Terá saiu com sua família para Canaã, seguiu uma rota comercial muito usada naquele tempo, fugindo do paredão desértico e subindo pelo vale do Eufrates. Com mil quilômetros percorridos, chegaram à cidade de Harã. Hoje, Harã é uma pequena aldeia árabe, no sul da Turquia, e ainda preserva o nome ancestral. Mas quando a família de Terá chegou, a cidade não era diferente de Ur dos Caldeus. Estava localizada numa importante rota comercial e também era um centro de adoração a Nana, o deu-lua. Não à toa a família se identificou com o lugar e ali se estabeleceu.

Algum tempo depois, algo ocorreria que mudaria o rumo da vida de Abrão novamente: seu pai Terá morreria.

Abrão estava com 75 anos, carregando uma promessa do Deus Altíssimo de que seria uma grande nação. Mas sua esposa, Sarai, era estéril, e a expectativa da continuação da linhagem e da herança caía, provavelmente, sob seu sobrinho e filho adotado Ló.

Para preservar sua família da idolatria em Harã, Abrão tomou Sarai, Ló e seus servos, além de toda a riqueza que havia adquirido, e tornou-se o cabeça da jornada iniciada por seu pai Terá, caminhando na direção da Terra Prometida, Canaã.

Deixou para trás, no entanto, seu irmão Naor. Futuramente, Abrão enviaria seu servo para a mesma cidade, para buscar uma esposa para o filho.

b) Encontro com Deus em Siquém

“Abrão atravessou a terra até o lugar do Carvalho de Moré, em Siquém. Naquela época os cananeus habitavam essa terra.” (Gn 12.6).

De Harã, Abrão e sua comitiva seguiram numa estrada para sudoeste, passando pela Síria e por Damasco e pelas montanhas de Samaria. Abrão entrou em Canaã exatamente 645 anos antes do Êxodo do povo de Israel.

Quando chegou a Canaã, especificamente em Siquém, Abrão percorreu a terra como um modo tradicional de demarcar sua posse. Hoje na Cisjordânia, Siquém está em um local chamado de Nablus.

Na época, a região era habitada por diversos povos cananeus que adoravam outros deuses diferentes dos deuses mesopotâmicos. Esses povos eram os queneus, quenezeus, cadmoneus, hititas, ferezeus, refains, amorreus, cananeus, girgaseus e jebuseus (Gn 15.19-20). O culto desses povos era voltado aos deuses da fertilidade.

Foi em Siquém, na planície de Moré, onde Deus apareceu novamente a Abrão e prometeu-lhe a terra (Gn 12.6-7). Foi ali, também, onde Abrão ergueu o primeiro altar a Deus.

b) Acampamento em Betel

A família continuou a peregrinação descendo até Betel. A região ganhará esse nome mais pra frente, quando o neto Jacó tiver o seu sonho com os anjos e a escada. Nessa época a região tinha outro nome.

Em Gn 12.8-9 sabemos que Abrão armou acampamento nesse lugar por um tempo, erguendo um novo altar a Deus e invocando o seu nome. Logo, porém, seguiu para o sul, para o Neguebe, fugindo da fome.

c) Refugiando-se da fome no Egito

“Dali prosseguiu em direção às colinas a leste de Betel, onde armou acampamento, tendo Betel a oeste e Ai a leste. Construiu ali um altar dedicado ao Senhor e invocou o nome do Senhor. Depois Abrão partiu e prosseguiu em direção ao Neguebe. Houve fome naquela terra, e Abrão desceu ao Egito para ali viver algum tempo, pois a fome era rigorosa.” (Gn 12.8-10).

Depois do Neguebe, para fugir da fome que devastava a terra, a caravana de Abrão foi refugiar-se junto das ricas fazendas do Egito, irrigadas pelas cheias do rio Nilo (Gn 12.10). Essa seria a primeira vez, mas não a última em que os hebreus desceriam ao Egito por causa da fome. Mais para frente, o neto Jacó fará o mesmo com toda a família.


“Abraão recebe o faraó”, The Brick Testament

Se a cronologia que seguimos está certa, Abrão deve ter descido ao Egito próximo ao chamado Primeiro Período Intermediário do Egito, provavelmente encontrando-se com o rei Meri-ka-Re Aethoes III, que compôs um cântico chamado “Instrução para o rei”, falando sobre a deslealdade dos asiáticos. Será que tinha alguma coisa a ver com Abrão?

Abrão, junto de Sarai, de Ló e de sua caravana, certamente se maravilharam com as pirâmides em Mênfis, que já estavam erguidas há um bom tempo. Mas o período ali não foi tão fácil.

Quando Abrão saiu de Harã com sua família, sabia que poderia enfrentar muitos perigos diante de nações estrangeiras. Por isso, temendo que o matassem por causa da beleza de sua esposa Sarai, combinou com ela para sempre se apresentar como sua irmã, o que não era uma mentira (Gn 20.13).

Até ali nenhum perigo havia ocorrido, e ele havia transitado pelos povos cananeus com tranquilidade. Mas no Egito poderia ser diferente (Gn 12.12-20). Quando chegaram ao lugar, aconteceu como havia previsto, e os egípcios acharam a moça hebreia tão bonita que a notícia logo chegou no rei.

O rei recebeu Abrão por causa da beleza de sua “irmã”, e Abrão acabou recebendo muitos presentes. Já Sarai foi colocada no harém do rei.

O texto não deixa claro como as coisas aconteceram, o que diz é que Deus puniu o faraó e a corte com doenças por causa de Sarai (talvez os adivinhos tenham tentado descobrir a razão e Deus a revelara). Quando descobriram o embuste de Abrão, ficaram bem zangados.

Apesar da covardia de Abrão, Deus foi fiel a ele e protegeu a mulher escolhida para gerar o filho de sua herança. Afinal, o Senhor foi exaltado no Egito pela primeira vez, e os egípcios, temendo pelo Deus de Abrão, mandaram a caravana embora, não sem dar a eles muitos presentes.

Muito mais tarde, os egípcios serão lembrados de uma forma ainda mais severa que não se deve mexer com o povo do Deus Altíssimo.


3) O sobrinho Ló

Abrão já estava há algum tempo peregrinando na terra prometida e Sarai ainda não havia engravidado. Sua única esperança de um herdeiro continuava sendo seu sobrinho Ló. Mas Ló não era o escolhido para receber a herança. Pelo contrário, devido à fraqueza do coração dele, Abrão deveria se separar. Mas isso seria uma grande prova para o pai da fé.

a) Separação de Ló

Depois de ter provado da bondade de Deus no Egito, tendo sua esposa livre dos maus tratos e ainda recebendo grandes riquezas, agora Abrão terá que lidar com uma dura decisão.

Depois que saíram do Egito, fizeram o caminho de volta e se estabeleceram novamente entre Betel e Ai. Mas não por muito tempo. Em Gênesis 13, vemos que os pastores de Ló estavam brigando por espaço com os pastores de Abrão. Parece que a disputa chegou numa dimensão tal que a única opção seria a separação, o que indicava que Ló seguiria seu caminho e não seria seu herdeiro.

Abrão deu a vantagem da escolha a Ló, e pediu que escolhesse para onde seguiria com seu rebanho. Se ele fosse para um lado, Abrão iria para outro.

Essa facilidade de escolha ressalta ainda mais que Canaã naquele período era uma terra erma, sem grandes nações organizadas.

Ló aceitou a proposta e encheu-se de ganância quando seus olhos viram o rico vale do Jordão. Decidiu pela cobiça e seguiu adiante com seu rebanho, separando-se de Abrão.

Com a separação de Ló, o herdeiro da casa de Abrão passou para o principal servo de sua casa, no caso Eliézer (Gn 15.2).

Como saberemos mais para frente, a família e os servos de Ló não eram tementes a Deus. Certamente Deus estava protegendo e separando Abrão ainda mais da idolatria.

Antes de escolher para onde seguir, o Senhor apareceu novamente a Abrão para encorajá-lo e lembrá-lo novamente da promessa de que daria aquela terra a ele e de que daria a ele uma grande descendência (Gn 13.14-18).

Em seguida, Abrão levou todo o seu povo para uma região chamada na Bíblia de Carvalhos do Manre. Ali ele vai conviver em paz com os amorreus. O nome Manre se deve a um líder amorreu na vizinhança de Abrão. Nesse lugar, Abrão e seu povo viverá por 24 anos. Essa região será futuramente chamada de Hebrom. Ali, construiu um novo altar ao Senhor.

b) Resgate de Ló

“Alguém que tinha escapado veio e relatou tudo a Abrão, o hebreu. Abrão vivia próximo aos carvalhos de Manre, o amorreu, irmão de Escol e de Aner, aliados de Abrão” (Gn 14.13).

Ló procurou o melhor lugar à sua vista para armar suas tendas e criar seu rebanho, mas ele voltará a dar trabalho para Abrão.

Alguns reinos da Mesopotâmia dominavam e recolhiam tributos há anos entre as nações do vale do Jordão, e agora essas nações haviam se rebelado (Gn 14.1-16). Por isso, formou-se uma grande coalizão com as nações do norte, que desceu furiosa em guerra contra as nações rebeldes, arrasando a tudo e a todos.

Uma grande guerra ocorreu bem próximo de Abrão. Os reis do norte saíram vitoriosos, afinal, devastando as nações do vale do Jordão, levando despojos e os moradores da região como escravos. Entre eles, a família de Ló.

Enquanto os reis do norte voltavam para a Mesopotâmia levando seus escravos, um sobrevivente foi buscar socorro com um rico mercador junto aos amorreus, sabendo que aquele hebreu faria tudo pelo sobrinho Ló.

Assim que Abrão foi avisado do que ocorreu, juntou 318 capangas experimentados em proteger o seu rebanho e fez uma aliança com os três amorreus Aner, Escol e Manre. Juntos, partiram no encalço dos reis do norte, atacaram eles de surpresa e os venceram.

Desse modo, Abrão libertou cinco nações de Canaã da tirania dos reis da Mesopotâmia, entre elas Sodoma e Gomorra. Junto com os cativos libertos estava a família de Ló.

Quando o rei de Sodoma veio até Abrão, o hebreu se negou a ficar com os despojos da batalha e devolveu a sua parte para o rei de Sodoma junto dos cativos, e a família de Ló foi com ele.

Depois dessa grande vitória em batalha, a primeira vitória em uma batalha do povo de Deus, Abrão se encontrou com alguém muito misterioso (Gn 14.17-24).

O misterioso Melquisedeque recebe na Bíblia o duplo ofício de rei e de sacerdote do Deus Altíssimo, vindo de uma terra chamada Salém, que sabemos, por outros textos, que é a antiga Jerusalém. O sacerdócio de Melquisedeque está relacionado ao sacerdócio de Jesus Cristo (Sl 110.4Hb 7) e é apresentado como um sacerdócio universal, maior do que o de Abrão.

No Vale de Savé, ou Vale do Rei, Melquisedeque e Abrão tiveram comunhão com pão e vinho. Melquisedeque abençoou Abrão, e Abrão lhe deu o dízimo.

4) Alianças e promessas

Depois de ter peregrinando sobre a terra que lhe foi prometida por Deus, de ter visto o livramento de Deus no Egito e a vitória sobre os inimigos em Canaã, mas também de ter visto o tempo passar sem que Sarai tivesse lhe dado um filho, e do próprio Ló ter se separado dele, Abrão vai aprofundando seu relacionamento com Deus, mostrando-se um homem de fé. Vemos, agora, um Abrão mais íntimo de Deus, um verdadeiro “amigo de Deus” (Tg 2.23).

a) Pacto dos pedaços

“Então o Senhor deu-lhe a seguinte resposta: “Seu herdeiro não será esse. Um filho gerado por você mesmo será o seu herdeiro”. Levando-o para fora da tenda, disse-lhe: “Olhe para o céu e conte as estrelas, se é que pode contá-las”. E prosseguiu: “Assim será a sua descendência” (Gn 15.4-5).

Algum tempo depois dos acontecimentos com Ló, Deus apareceu novamente a Abrão, dessa vez numa visão (Gn 15). Nessa ocasião, Abrão tem a oportunidade de abrir seu coração para Deus, mostrando sua ansiedade com o fato de ainda não possuir nenhum herdeiro natural. É nessa ocasião que Deus o levou a contemplar as estrelas para que visse a grandeza da multidão que seria a sua descendência. Quando ouviu e viu essas coisas, Abrão creu no Senhor:

“Abrão creu no Senhor, e isso lhe foi creditado como justiça.” Gn 15.6

Vemos que a fé de Abrão o conduz a ser um homem obediente a Deus. Algumas vezes ele até falhou nessa obediência, mas a sua fé permaneceu, e foi por meio dela que o pai da fé encontrou graça no Senhor.

Então, Deus pediu que Abrão cortasse um holocausto em duas partes e o colocasse um em frente ao outro. No final do dia, Abrão foi tomado de grande pavor, e Deus falou novamente com Abrão, revelando-lhe um pouco a história dos seus descendentes. Depois, fez uma aliança com Abrão, passando através de um fogareiro esfumaçante pelas metades dos animais oferecidos em holocausto. E mais uma vez afirmou que daria aquela terra aos seus descendentes.

b) Nascimento de Ismael

Porque não confiou na proteção de Deus, quando desceu ao Egito Abrão colocou a esposa numa enrascada que quase trouxe grande desgraça para a sua casa, corrompendo a mulher que lhe daria o filho da promessa.

Dez anos se passaram desde que a família havia chegado em Canaã e nada de Sarai engravidar. Nessa ocasião, Abrão já estava com 85 anos. A esposa, cansada de esperar,  não confiou que Deus lhe daria um filho e decidiu fazer as coisas do seu jeito. Pediu, então, que Abrão gerasse um filho de sua serva egípcia, Hagar, que provavelmente veio com eles daquela fatídica primeira vez que visitaram o país.

Abrão ouviu sua esposa (Gênesis 16) e, por causa disso, a história tomou um rumo surpreendente, já que a partir disso surgirá uma nova nação, que até hoje rivaliza com a nação da semente da promessa.

Hagar engravidou, mas as coisas não ficaram nada bem. Sarai começou a sentir ciúmes da serva egípcia e passou a maltratá-la a tal ponto que fez ela fugiu.

Enquanto fugia, no caminho de Sur, o Anjo do Senhor apareceu a Hagar e fez-lhe uma promessa. Seu filho seria uma grande nação por amor a Abrão. Ainda, ordenou-lhe que voltasse para a família e se sujeitasse, pois Deus abençoaria sua descendência.

A partir daí, Hagar passou a chamar o Senhor, o Deus de Abrão, de “Tu és o Deus que me vê”.

Hagar obedeceu ao anjo, voltou para a família e teve Ismael, o primogênito de Abrão.

c) O sinal da aliança

“Esta é a minha aliança com você e com os seus descendentes, aliança que terá que ser guardada: Todos os do sexo masculino entre vocês serão circuncidados na carne. Terão que fazer essa marca, que será o sinal da aliança entre mim e vocês” (Gn 17.10-11).

Mais de dez anos se passaram, Ismael tinha agora 12 anos, quando o Senhor apareceu novamente a Abrão (Gn 17).

Mais uma vez, Ele reafirmou a aliança com Abrão, prometendo-lhe uma grande nação de sua descendência. Desta vez, Ele mudou o nome de Abrão para Abraão. Abrão significa “Pai exaltado”, já o significado de Abraão dá a ideia de “Pai de muitas nações”. Nomear e mudar o nome, no Gênesis e na Bíblia, refere-se ao governo e domínio sobre algo. A mudança de nome mostrava a profundidade do relacionamento de Abrão com Deus e de sua aliança com ele.

Além do nome de Abrão, também o de Sarai seria mudado, que passou a se chamar Sara. Sara significa “princesa”.

Nesse episódio, Deus também estabeleceu um sinal para esta aliança. Assim como o arco-íris era o sinal da aliança com Noé (Gn 9.12-13), a circuncisão seria o sinal da aliança de Deus com Abraão e o povo que viria a partir dele. Todo homem deveria ser circuncidado aos 8 dias do nascimento, e esse seria o sinal de que aquele povo estava em aliança com Deus.

Quando Deus reafirmou a Abraão que Sara lhe daria um herdeiro, Abraão riu da ideia de um homem com 100 anos gerar um filho. Mas Deus confirmou, dizendo que o filho de Sara deverá se chamar Isaque, e de que seria com Isaque que Deus daria continuidade à aliança de Abraão.

Depois que o Senhor falou com ele, Abraão juntou todos os homens de sua casa, incluindo ele e seu filho Ismael, e todos foram circuncidados.

A Bíblia diz que Abraão fez isso pela fé que tinha em seu amigo, o Senhor (Rm 4.11).

d) A visita dos anjos

“Existe alguma coisa impossível para o Senhor? Na primavera voltarei a você, e Sara terá um filho” (Gn 18.14).

Enquanto Abraão estava sentado debaixo do antigo Carvalho do Manre, viu a figura de três homens se aproximarem. Como parte da hospitalidade da região, Abraão ofereceu a eles estadia.

Depois de os servir, os homens perguntaram de Sara. Nesse momento, descobrimos que o Senhor era um dos três visitantes em forma de homem. Os outros dois eram anjos. Foi o Senhor que informou Abraão de que, na primavera, Sara teria um filho.

A esposa, que ouvia a conversa na tenda, riu da ideia de ter um filho já idosa, do mesmo jeito que havia feito Abraão anteriormente. Imediatamente foi repreendida pelo próprio Deus.


“Abraão e os três anjos”, James Tissot

e) A intercessão por Sodoma e Gomorra

Depois da refeição, os dois anjos partiram para Sodoma, enquanto o Senhor teve uma conversa particular com Abraão.

Aqui vemos o nível de intimidade em que Abraão chegou com Deus, quando Deus revelou ao seu amigo o plano de destruir Sodoma, dando-lhe a oportunidade de interceder pelas duas nações  (Gn.18.15-33).

Abraão, como um grande mercador e com grande ousadia, vai negociando a salvação da cidade, propondo que Deus a salvasse desde que houvesse pelo menos 10 homens justos na cidade, o que Deus acabou concordando.

O grande objetivo de Abraão certamente era salvar novamente seu sobrinho Ló de mais essa enrascada. Ló receberia o juízo como resultado de suas escolhas erradas, cada vez mais envolvido com as nações pagãs de Canaã. Intercedendo pelo sobrinho, Abraão acabou exemplificando a própria intercessão de Jesus Cristo pelos pecadores.

Aconteceu que os anjos que foram vistoriar a cidade testemunharam uma tentativa de grande violência contra eles por todos os homens na cidade, provando-se falsa a ideia de que ali tivesse 10 homens justos. Por isso, Deus decidiu destruir as duas cidades, pois a iniquidade dela havia chegado no mesmo nível daquela geração de Noé, em que não havia mais chances de haver justos entre eles, e por isso deveriam receber o devido juízo. Mesmo assim, por amor a Abraão, Deus salvou o sobrinho Ló e as duas filhas dele (Gn 19).

5) O filho da promessa

“Pela fé, Abraão — e também a própria Sara, apesar de estéril e avançada em idade — recebeu poder para gerar um filho, porque considerou fiel aquele que lhe havia feito a promessa. Assim, daquele homem já sem vitalidade originaram-se descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e tão incontáveis como a areia da praia do mar.” (Hb 11.11-12).

Depois de esperar toda a sua vida, Abraão finalmente vê a promessa de Deus se descortinar à sua vista. Ele e sua esposa Sara finalmente serão pais e terão uma linhagem vinda deles. No final, esperar no Senhor provou a fé do patriarca e o aproximou ainda mais do seu Senhor. Valeu a pena esperar no Senhor!

a) Livramento em Gerar

Em suas peregrinações, Abraão foi montar acampamento em Gerar, terra dos antigos filisteus. Essa cidade fica próxima da atual Gaza (Gn 20).

A presença de filisteus nessa região nesse período é estranha, já que o êxodo dos conhecidos “povos do mar”, do Mediterrâneo, ocorrerá séculos depois, vindo com eles os filisteus, de Creta. No entanto, não é impossível crer, com certas evidências arqueológicas, que houveram outras pequenas migrações dos “habitantes de Caftor”, ou seja, dos filisteus, muito antes. De fato, uma grande migração de filisteus será sentida em Canaã no período dos Juízes, mas alguns deles já habitavam a região e prepararam o terreno para a vinda de seus patrícios muitos séculos antes (3).

Mais uma vez, Abraão temeu os povos vizinhos e mais uma vez mentiu sobre o estado civil de Sara, negando que fosse sua esposa diante de Abimeleque, o rei de Gerar.

Note que há uma narrativa semelhante ocorrendo com o filho Isaque, em Gn 26, até com o mesmo nome. Mas não se trata de uma cópia e repetição de história. Acontece que Abimeleque, que significa “meu pai é rei”, era como um título real entre eles, e o Abimeleque de Isaque certamente era algo como Abimeleque II, um filho ou um neto daquele.

Diante da mentira de Abraão, Abimeleque tomou Sara como esposa. E mais uma vez Deus interveio para resgatar Sara e para proteger a pureza da matriarca da aliança. Dessa vez, o Senhor apareceu em sonho para advertir o rei de Gerar.

Nessa narrativa ocorre pela primeira vez na Bíblia a palavra “profeta” (Gn 20.7), e é usada para Abraão. O próprio Deus chamou Abraão de seu profeta, mostrando que a relação de Abraão e o Senhor estava de fato muito estreita. Deus perdoaria Abimeleque pelo seu pecado somente se Abraão intercedesse pelo rei.

O que havia ocorrido era o seguinte. Deus havia tornado estéreis todas as mulheres da casa de Abimeleque por causa do pecado de tomar Sara como esposa. Somente se Abraão intercedesse é que Deus curaria aquelas mulheres.

Depois que Abimeleque devolveu Sara a Abraão, desfazendo a confusão, e depois que ele presenteou com muitas riquezas o casal, foi que Abraão intercedeu pelas mulheres da casa de Abimeleque, e elas foram curadas.

A grande surpresa, e o que Abraão não esperava era que, ao interceder pelas mulheres de Abimeleque, mais alguém finalmente seria curada de sua esterilidade….

b) Nascimento de Isaque

“O Senhor foi bondoso com Sara, como lhe dissera, e fez por ela o que prometera. Sara engravidou e deu um filho a Abraão em sua velhice, na época fixada por Deus em sua promessa” (Gn 21.1-2).


“Abraão e Isaque”, William Withaker

A casa de Abraão ficou em festa! Finalmente, depois de dezenas de anos da promessa de Deus, “na época fixada por Deus em sua promessa”, no tempo certo, Sara gerou Isaque, o filho da promessa, quando Abraão tinha prodigiosos 100 anos! (Gn 21.1-7).

O significado do nome Isaque, uma referência a riso, no começo referia-se ao riso de descrença de Abraão e de Sara quando ouviam da promessa de terem um filho na velhice. Mas, depois de pegarem o filho da promessa nos braços, eles riram de alegria. Deus transformou um riso de descrença num riso de alegria. Deus tem o tempo certo. Vale a pena esperar no Senhor!

“E foi assim que, depois de esperar pacientemente, Abraão alcançou a promessa” (Hb 6.15).

c) Uma nação de Ismael

Depois que Isaque foi desmamado, o pai deu uma grande festa para o filho. Em determinado momento, porém, Sara viu que o mais velho Ismael estava caçoando de Isaque. Percebendo o risco para o filho, a esposa recorreu a Abraão para que expulsasse a egípcia de modo que Ismael não tomasse a herança (Gn 21.9-21).

Abraão ficou muito perturbado com isso, mas Deus o consolou. Pediu que atendesse o pedido da esposa e que não se preocupasse, pois por causa do amor que Deus tinha por Abraão, o próprio Deus abençoaria Ismael. No fim, o Senhor mais uma vez estava usando das desavenças entre as famílias para proteger a linhagem da aliança, separando-os dos ímpios, como fizera com Ló, no passado. Agora, estava separando Isaque da má influência de Ismael (Gl 4.29).

No outro dia, Abraão despediu a escrava egípcia, que levou o filho e ficou vagando pelo deserto de Berseba.

Uma cena muito comovente se desenrolou então. Hagar ficou desolada e esperou a morte chegar para o filho, depois que a água e o alimento dados por Abraão haviam acabado:

“Quando acabou a água da vasilha, ela deixou o menino debaixo de um arbusto e foi sentar-se perto dali, à distância de um tiro de flecha, porque pensou: “Não posso ver o menino morrer”. Sentada ali perto, começou a chorar.” (Gn 21.15-16).

Então Deus apareceu a Hagar e a consolou, mostrando-lhe uma fonte de água e prometendo ajudá-los.

O livro de Gênesis relata então a origem dos povos “flecheiros” do deserto de Parã, onde eles foram morar. O deserto de Parã fica próximo ao Sinal, portanto fora dos limites da terra prometida, de Canaã. Significativamente, a região fica entre o Egito e Canaã, como sua própria descendência, metade egípcia, metade israelita.

Ismael terá 12 filhos, que serão 12 nações (Gn 25.12-18). Os ismaelitas se tornarão flecheiros do deserto do norte da Arábia, onde até hoje os nômades dessa região dizem ser descendentes de Ismael. De fato, por causa de Maomé, todos os árabes registram sua descendência nesse patriarca.

Deus abençoou sobremaneira a linhagem de Abraão através de Ismael.

d) Aliança com Abimeleque

Depois que Deus já havia cumprido a promessa de um herdeiro, através do nascimento milagroso de seu filho Isaque, agora mais uma vez Ele vai demonstrar a Abraão que aquela terra seria dele.


“Hagar e Ismael no deserto”, Francesco Cozza, 1665

Abimeleque, o rei de Gerar, das terras onde Abraão estava acampado, foi junto de seu comandante Ficol encontrar-se com o patriarca para fazer uma aliança com ele, pois os filisteus havia visto que o Deus de Abraão era poderoso e o protegia (Gn.21.22-34).

Assim, Abraão e Abimeleque, o rei de Gerar, fizeram uma aliança de paz naquela terra. Além disso, Abraão reivindicou um poço que havia cavado, que os filisteus haviam tomado dele. Para ficar certo de que aquele poço seria dele, Abraão ofereceu 7 ovelhas como testemunho. Daí que o nome do poço foi chamado de Berseba, que significa “poço do juramento”. Também naquele lugar Abraão plantou uma tamargueira e invocou o nome do Senhor.

e) Provação em Moriá

“Pela fé Abraão, quando Deus o pôs à prova, ofereceu Isaque como sacrifício. Aquele que havia recebido as promessas estava a ponto de sacrificar o seu único filho, embora Deus lhe tivesse dito: “Por meio de Isaque a sua descendência será considerada”. Abraão levou em conta que Deus pode ressuscitar os mortos; e, figuradamente, recebeu Isaque de volta dentre os mortos” (Hb 11.17-19).

Depois que Deus separou Abraão de tudo o que poderia afastá-lo do temor a Deus, agora Abraão passará por uma última prova, para que ele pudesse mostrar seu total amor e fé no Senhor (Gn.22).

Depois de algum tempo, com Isaque já grande, Deus apareceu a Abraão ordenando que o pai oferecesse o filho em holocausto, no monte que ele iria mostrar.

Deus refere-se a Isaque como o único filho de Abraão pois Ismael já havia sido deserdado, e Isaque era o filho da promessa.

Na madrugada do outro dia, Abraão já estava pronto para obedecer a Deus. Não que ele estivesse ansioso por assassinar o próprio filho, mas, segundo o texto de Hebreus 11.17-19, Abraão teve fé de que Deus não tiraria o filho que o Senhor já havia prometido que iria herdar sua herança. Quando Isaque perguntou pelo holocausto, Abraão respondeu com fé: “Deus mesmo há de prover o cordeiro para o holocausto, meu filho” (Gn 22.8).


Sacrifício de Isaac", óleo de 1603, pintado por Caravaggio.
Sacrifício de Isaac”, óleo de 1603, pintado por Caravaggio.

Assim, Abraão subiu no monte com seu filho, preparou a pira e apontou um cutelo. Antes que a carne de Isaque fosse ferida, porém, o Anjo do Senhor apareceu a ele primeiro, pedindo que nada fizesse a Isaque. E depois, informando-o de que aquela era uma prova do seu amor a Deus, e que agora o Senhor sabia que ele o amava “porque não me negou seu filho, seu único filho” (22.12).

Em seguida, Abraão viu um cordeiro preso nos arbustos preparado para o holocausto, em lugar de seu filho. Deus havia providenciado um substituto.

O que Abraão não tinha como saber era que o verdadeiro substituto para o sacrifício era o próprio Filho de Deus, o único filho de Deus, entregue na Cruz para morrer pelos nossos pecados.

Através da prova de Abraão, Deus nivelou o maior amor do mundo, aquele de entregar o próprio filho em lugar daqueles que ama. Abraão não precisou fazer isso, mas o Pai fez, entregando seu Filho amado, Jesus Cristo, na cruz pelos pecadores.

Depois do sacrifício, o Senhor mais uma vez confirmou a Aliança com seu amigo Abraão, à semelhança do modo como havia iniciado:

“Esteja certo de que o abençoarei e farei seus descendentes tão numerosos como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar. Sua descendência conquistará as cidades dos que lhe forem inimigos e, por meio dela, todos povos da terra serão abençoados, porque você me obedeceu” (Gn 22.17-18).

Abraão chamou aquele monte de Moriá. E seria nele que, futuramente, o templo do Senhor seria construído.

De lá, Abraão partiu para viver em Berseba.

6) Os últimos dias de Abraão

Em seus últimos dias, Abraão verá que Deus irá superabundar em graça em sua vida.


Túmulo dos patriarcas, local tradicional da caverna de Macpela

a) Morte de Sara

Em Gênesis 23, a companheira fiel de Abraão, Sara, morreu aos 127 anos em Quiriate-Arba. Esta futuramente será a cidade de Hebrom.

Abraão foi preparar um lugar para receber o corpo de sua mulher, que também será sua futura sepultura. Negociou com os hititas a caverna de Macpela, que pertencia a Efrom. Embora o proprietário desejasse doar o local a Abraão, que é chamado por ele de “príncipe de Deus”, o patriarca fez questão de pagar o preço justo pela caverna: 400 peças de prata.

Assim, todo o campo de Macpela, próximo ao Manre, foi transferido a Abraão, onde o marido pôde sepultar sua esposa em paz.

Até hoje, na cidade de Hebrom, há um túmulo em que a tradição diz ter sido o local onde estariam Abraão e Sara, Isaque e Rebeca, Jacó e Lia. A tradição também diz que Adão e Eva estariam nessa caverna.

b) Uma esposa para Isaque

Sabendo que iria morrer e preocupado que seu filho Isaque se casasse com alguma estrangeira de Canaã, depois de tudo o que Deus já havia feito para que se mantivessem afastados da idolatria, o velho Abraão pediu a seu fiel servo Eliézer ir buscar uma esposa para o filho em Harã, de onde havia saído, décadas atrás, e onde vivia Naor, seu irmão (Gn 24).

Auxiliado por Deus, o servo cumpriu com a ordem do seu senhor e trouxe uma esposa da família para Isaque.

c) Uma grande herança para Abraão

Deus havia ainda guardado muitas bênçãos para Abraão no fim de sua vida (Gn 25.1-11).

Depois da morte de Sara, Abraão casou-se novamente, e Deus o fez forte para ter com ela mais seis filhos: Zinrã, Isbaque, Suá, Jocsã, Medã e Midiã. Desse último vieram os povos chamados de midianitas.

Porém, para proteger o filho Isaque, Abraão deu presentes para cada filho e os enviou para o Oriente. Nos seus últimos dias, a família ainda precisava ser preservada, separada para o Senhor.

Abraão é para nós, cristãos, um exemplo de um homem abençoado por Deus, um homem que viveu pela fé, e foi chamado amigo de Deus.

Deus prometeu que daria a ele um filho e uma terra, e Abraão abandonou tudo para viver pela fé nessa promessa. Deus o separou de seus familiares, de sua terra confortável, depois o separou de seu sobrinho amado, de seu primeiro filho Ismael. Além do mais, protegeu Sara duas vezes, no Egito e entre os filisteus. Tudo isso para que a semente da promessa não fosse corrompida, e um plano muito maior que estava sendo construído fosse realizado. Plano esse que Abraão não tinha a menor ideia.

Por meio de Abraão, a linhagem seguiu até a vinda do nosso Senhor Jesus Cristo, e por meio dele, finalmente todos os povos da terra alcançam a bênção de Deus.

Hoje, não é filho de Abraão aquele que é nascido de sua descendência, mas todo aquele que crê em Jesus Cristo como único Senhor e Salvador.

Assim como Abraão recebeu a justiça de Deus por causa da fé e por isso obedeceu a Deus, todos aqueles que têm a mesma fé de Abraão são verdadeiros filhos de Abraão, e como ele recebem a justiça de Cristo pela fé:

“Assim ele recebeu a circuncisão como sinal, como selo da justiça que ele tinha pela fé, quando ainda não fora circuncidado. Portanto, ele é o pai de todos os que crêem, sem terem sido circuncidados, a fim de que a justiça fosse creditada também a eles” (Rm 4.11).

Por isso, Paulo afirmou com toda a convicção: “Estejam certos, portanto, de que os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão” (Gl 3.7).

A história de Abraão não é uma história de uma nação, nem de um antepassado de um povo da antiguidade. A história de Abraão é a nossa história. É a história da salvação de todas as nações através de Jesus Cristo, o filho de Deus.

Vale a pena esperar no Senhor!


(1) Todos os textos bíblicos citados estão na Nova Versão Internacional

(2) Neste artigo seguimos a cronologia de Eugene Merril em “História de Israel no Antigo Testamento”, da CPAD.

(3) Merril, pg 32.

Consulta:

DAVIS, John D. Dicionário da Bíblia. Rio de Janeiro: JUERP, 1990.

MERRILL, Eugene. História de Israel no Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2016.

SZULC, Tad. Legado de Abraão, O. in: National Geographic, dezembro, 2001, pg. 36-75.

VAN GRONINGEN, Gerard. Progresso da revelação no Antigo Testamento, O. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

Compartilhe conosco o que achou desta postagem

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.