003 – Construindo a igreja do mundo

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A história de uma família que não prestava relatório

Era um apartamento em um condomínio bem protegido, no centro da capital. Era confortável, embora não fosse tão grande quanto poderiam pagar. Priscila estava na sala, com a TV ligada e desejando ser assistida, mas os olhos da mulher estavam sobre aquela revista evangélica, cuja capa era uma enorme igreja com várias torres, e em cada torre havia uma bandeira de um país. Paulinho, seu filho, estava no carpete da sala, com seus brinquedos.

Priscila, desde a adolescência, quis ser missionária. Entregou sua vida a Jesus na pregação de um missionário e pediu para que o mesmo Jesus a usasse da maneira que quisesse, para a pregação do Evangelho.

O microondas apitou e ela foi tirar o jantar, que havia requentado, pois seu marido, mais uma vez, havia chegado atrasado, trabalhando até tarde.

Aquila, o marido, saiu do banho um pouco menos cansado e sentou-se à mesa com a esposa, que expôs o relatório das atividades do dia. Contou tudo, detalhe por detalhe. Ele procurava prestar o máximo que restava de atenção após 12 horas de trabalho e uma fome esmagadora. 

Ele também comentou do seu dia. Explicou por que atrasara e confidenciou-lhe seus medos e frustrações da obra que gerenciava: ele era o responsável por uma grande empreiteira, e eles estavam construindo um edifício que seria um banco muito grande e complexo.

Já no final da conversa, ela comentou:

– Sabe a família do Nazaré, lá da Índia? Eles escreveram no relatório missionário que planejam distribuir 300 Novos Testamentos na cidade que estão entrando, para distribuírem na madrugada. Eles estão contando com a igreja para conseguir o dinheiro para comprarem e transportarem as Bíblias.

Aquila mastigou a última porção de comida em um silêncio que precedia uma chateação.

– Eu tenho que escrever um relatório para a empresa para entregar amanhã. Vou ter que ficar fazendo agora à noite.

Os ombros dela caíram, já que a frustração pesa. Ele levantou-se para que a dor de desapontá-la não o causasse maior desânimo: ele tinha um trabalho a fazer.

Passou antes na sala, conversou um pouco com Paulinho para criar ânimo para a razão de tanto trabalho. Aquila também desejava ser missionário desde a juventude. Recebeu essa paixão desde os tempos de faculdade. Priscila e Aquila casaram-se olhando para os campos brancos. Mas havia uma planilha financeira em seu desktop que o fazia sentar naquela cadeira e escrever aquele relatório.

Ele abriu essa planilha, consultou as contas daquele mês, pegou uma calculadora e digitou alguns números. Fechou e orou ao Senhor.

Não foram poucas as vezes que missionários iam pregar nas igrejas demonstrando o quanto que para seguir a vocação de Deus era necessário abrir mão de tudo e confiar em Deus, mesmo dos nossos desejos mais profundos: mas havia uma planilha financeira em seu desktop que o fazia sentar naquela cadeira e escrever aquele relatório.

Levantou-se e foi até a cozinha ajudar sua esposa a lavar e enxugar o restante da louça. Quando acabaram, ele disse:

– Diga ao Nazaré que pagaremos os 300 Novos Testamentos.

Os ombros dela relaxaram porque a alegria é leve.

Ele voltou ao escritório. Jesus conhecia aquela planilha financeira. Priscila e Aquila não escreviam cartas ou relatórios às igrejas, não tinham cobertura de oração, não tinham programações especiais para recebê-los ou enviá-los, a igreja não lhes impôs as mãos, mas todos os meses Jesus abria aquele desktop e lia aquela planilha financeira como uma carta endereçada ao céu. O que Jesus lia era que jovens estudantes agora tinham sustento para fazerem seus cursos e preparar-se para o ministério, que famílias missionárias podiam sossegar porque Deus havia suprido as necessidades de mais um mês, que igrejas agora podiam ser erguidas, Novos Testamentos distribuídos, irmãos carentes tinham as urgências sanadas. Jesus sabia que a hora que Ele quisesse ele teria o coração daquela família pronto para largar tudo por Ele, mas Ele sabia também que se Ele cortasse com a tesoura aquela planilha, escorreria sangue bombeado por um coração apaixonado pelo Evangelho, escoando na Obra de avanço do Reino.

Aquila começou a escrever o relatório à empresa, após estalar o pescoço e espreguiçar. No início da segunda página, porém, ele sentiu um cheiro gostoso de um café quentinho, e logo um abraço por trás tão carinhoso quanto refrigerante e um beijo no pescoço que o fez soltar um sorriso dos lábios. 

– Vim trazer força e coragem pra você, viu? – disse Jesus, pelos lábios de Priscila – o Senhor está conosco e a gente não tem o que temer. É Ele quem nos dá força e Ele quem nos sustenta.

Priscila deixou um marido motivado e forte no escritório e foi colocar Paulinho para dormir. Quando chegou à sala, o menino tinha feito uma pequena construção de lego, como um castelinho com várias bandeirinhas que ele mesmo tinha pintado à mão. Havia também vários bonequinhos de lego em volta do castelinho e ao lado estava um grande caminhão de brinquedo, com dois bonequinhos de lego com capacetes de empreiteiros, e a caçamba do caminhão estava cheia de peças de lego.

– Do que está brincando, Paulinho?

– De ser igual ao papai. Eu e o papai estamos dirigindo o caminhão até a construção, pois estamos construindo a Igreja do mundo, da sua revista, e nós damos as peças para os construtores, e a Igreja vai ficar linda!

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