91 – Contando os dias

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“Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria.” (Sl 90.12).

Rei Lear é a peça de Shakespeare em que um rei velho caminha entre a tolice e a loucura – afinal uma e outra estão a um degrau de distância. De um bobo da corte, o rei ouve uma sanção realista de sua vida: “Tu não devias ter ficado velho antes de ter ficado sábio”.


Há um tipo de sabedoria que é própria da passagem do tempo, e é muito caro passarmos pelos anos sem adquiri-la. Foi sobre essa sabedoria que Moisés escreveu no precioso Salmo 90. O estadista hebreu aprendeu que a vida é breve e frágil demais: “Como uma correnteza, tu arrastas os homens; são breves como o sono.” (Sl 90.5). Nenhum projeto ou intenção humana é livre do juízo de Deus: “Todos os nossos dias passam debaixo do teu furor; vão-se como um murmúrio” (Sl 90.9). A vida é curta demais para projetos pretensiosos, para excessiva frivolidade, para intriga e murmuração mesquinha, para melindres e ressentimentos. Caminhamos debaixo do furor de Deus e nossos planos pessoais de vida podem ser levados ao pó num estalar de dedos do eterno.

Conforme avançam os anos e crescemos, é bom que o coração se afaste do umbigo. É bom que a cabeça fique mais perto das estrelas, pois descobrimos que não somos o eixo do mundo, e nem sequer o mundo é o eixo das estrelas. Há um Deus eterno, há um plano eterno. Só quem viu a vaidade pessoal se desfazer na brisa do tempo pode declarar: “Quem conhece o poder da tua ira? Pois o teu furor é tão grande como o temor que te é devido” (Sl 90.11). Moisés aprendeu com o tempo e agora caminha com cautela: “Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração alcance sabedoria” (Sl 90.12).

Aqueles que iniciam uma longa viagem são diferentes daqueles que estão chegando. Os primeiros estão preocupados demais com a qualidade do maná e com o sol do deserto. Já os últimos estão com os olhos voltados para as uvas da terra prometida: “Dá-nos alegria pelo tempo que nos afligiste, pelos anos em que tanto sofremos. (…) Consolida, para nós, a obra de nossas mãos; consolida a obra de nossas mãos!” (Sl 90.15-17).

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