“Então Saul tomou três mil de seus melhores soldados de todo o Israel e partiu à procura de Davi (…) havia ali uma caverna, e Saul entrou nela para fazer suas necessidades. Davi e seus soldados estavam bem no fundo da caverna” (1Sm.24.2-3).
Saul faz cocô.
Eu sei que parece inapropriado. Mas foi a própria Bíblia que disse: “Saul entrou nela para fazer suas necessidades” (1Sm.24.3).
Há uma canção infantil de Chico Buarque que diz: “Procurando bem/ Todo mundo tem pereba/ Marca de bexiga ou vacina/ E tem piriri, tem lombriga,/ tem ameba/ Só a bailarina que não tem”. E o Arnaldo Antunes tem outra que diz: “Saiba: todo mundo vai morrer/ Presidente, general ou rei/ Anglo-saxão ou muçulmano/ Todo e qualquer ser humano”.
Não se esqueça, se você não for uma bailarina, você é como “todo e qualquer ser humano”. Você vai morrer, você tem piriri. Mas a gente se esquece.
Saul esqueceu. Ele foi humilde no início, não se achando digno de ser rei em Israel (1Sm.9.21) mas, em algum momento, ele começou a gostar do trono. Ele fantasiou com o poder. O ciúme e a inveja o possuíram como entidades demoníacas. E ele se achou MAIOR. E tentou firmar seu trono com as próprias mãos, a qualquer custo. Por isso, Deus ensinar-lhe sobre a fragilidade do poder.
Em uma perseguição ensandecida a Davi, Saul precisou atender a uma urgência indomável da natureza. E ali, naquela situação constrangedora de miséria humana, enquanto fazia cocô, o rei, o general, que sequer conseguia dominar o próprio corpo, foi poupado da morte por aquele que perseguia.
Somos todos igualmente miseráveis. Mal conseguimos dominar nossas necessidades. Nós criamos fantasias de poder, e esquecemos quem realmente somos. Mas somos convidados, todos os dias, a nos lembrar quem somos e o que merecemos.
Bem-aventurado seria Saul se não tivesse esquecido daquela lição. Mas esqueceu. Esqueceu que era como “todo e qualquer ser humano”.
Saul faz cocô. Lembre-se disso.
O poder vem de Deus. E ele tira. Nós o administramos no temor do Senhor. Não se apaixone pelo poder.
Lembre-se, então, de uma última lição, muito mais escandalosa: o Soberano das nações tornou-se homem e assumiu todas as misérias dessa humanidade, exceto o pecado. Fez isso por amor. E nos ensinou: “Quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo (…) como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt.20.25-28).
Não esqueça da lição de Saul. Lembre-se dela nos momentos de miséria e nos momentos de glória. E coloque-se no seu lugar.
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