– Cara, aguenta firme, não solta a corda ou me arrebento lá embaixo!
Do sobrado em que morava, Pedro descia pela janela de seu quarto pendurado em uma corda feita de vários lençóis amarrados. Seu irmão mais novo Daniel o sustentava, empenhando toda a sua força do outro lado da ponta da corda;
– Mano, segura firme…
Pedro não deixaria de ir à festa dos seus amigos só porque os pais tinham uma neura com o horário.
Daniel, da janela, viu o irmão sumir no fim da rua. Recolheu o lençol, ajoelhou-se ao pé da cama e, muito nervoso, intercedeu pelo irmão:
– Deus, guarda o Pedro por onde ele andar e endireita os caminhos dele.
Aquela não era nem a primeira nem a segunda vez que Daniel intercedia por Pedro. Essa história começou muito antes. Daniel devia ter uns 6 anos de idade. Pedro achou que poderia pegar a bola no telhado do sobrado, mesmo que o irmão mais novo insistisse que deveriam chamar os pais. O menino escalou pela calha, mas quando segurou-se em umas telhas soltas, desabou no chão. As telhas acertaram Daniel no nariz, rasgando sua pele e expondo uma cicatriz permanente. Pedro ficou desacordado.
Levaram Pedro e Daniel imediatamente ao hospital. No final da tarde, deram os pontos em Daniel, que voltou para casa; Pedro continuou no hospital. Na Escola Bíblica do domingo anterior, a professora havia ensinado às crianças sobre a intercessão. Daniel aprendeu que a oração também pode ser uma maneira de glorificar a Deus quando oramos pela vida do próximo. Aprendeu sobre orar pelos missionários, pelos povos que não conhecem o evangelho; aprendeu sobre o poder de Deus para curar os doentes, para consolar os que choram etc. Naquele final de tarde, Daniel, aos 6 anos, entendeu que seu irmão precisava do cuidado de Deus e orou a Deus pela primeira vez por Pedro.
No outro dia, quando Pedro chegou com um gesso na perna, passou por Daniel e falou:
– Saí ganhando, pirralho. Ganhei uma perna de gesso, e você esse troço feio no nariz.
Daniel entendeu que Deus havia ouvido suas orações, e desde então tornou-se um intercessor de seu irmão. Naquela noite da fuga de Pedro pela janela, os pais descobriram, aguardaram Pedro chegar, e a cinta cantou. Quando Pedro entrou no quarto, Daniel fingiu que dormia, mesmo assim o irmão jogou um travesseiro nele, dizendo:
– Você deveria estar orando por mim.
Daniel sorriu escondido. Mais uma vez Deus respondia sua oração.
Não era só pelo irmão. O menino era mesmo de muita oração. Não perdia as reuniões de oração na igreja e sempre que sabia de uma vigília, estava lá. Todos notavam que ele tinha uma intimidade muito especial com Deus. Estava sempre em oração. Até as senhoras da igreja compartilhavam pedidos com o garoto.
Não era só pelo irmão, mas é que o irmão precisava. O que um orava, o outro aprontava. Só não deu tudo errado antes para Pedro, por causa dos joelhos do irmão. Pedro aprontava na escola; na igreja, arrumava briga com os vizinhos. Apesar desta grande diferença, eram muito unidos, amigos de verdade. Era como se a fé do irmão enchesse o outro de valentia fazendo com que não temesse o pior.
Certa vez, Pedro deu de namorar uma moça da igreja, Ana, e conhecendo o irmão, Daniel orou assim:
– Senhor, que Ana possa ter um casamento feliz.
A coisa ficou grave mesmo quando Pedro começou a andar com jovens estranhos. Afastou-se do irmão e logo descobriram seu envolvimento com drogas. Quando Daniel soube, ficou muito abalado, mas sua fé continuou firme e pelo menos três vezes ao dia pedia a Deus pela restauração do irmão. E Pedro foi preso.
Naquele dia, e todos os dias seguintes, achou que não seria o suficiente orar sozinho; saiu de casa à noite, jogou uma pedra na janela do quarto do Sebastião, amigo da igreja, e obrigou o rapaz a descer, e ambos oraram pelo irmão. Da primeira vez, Sebastião ficou com muita raiva, afinal que amigo mais importuno esse Daniel, até Deus deve se encher com ele!
Mas acontece que os pais de Sebastião estavam para se separar e, naquela noite, o garoto pediu, sem muita esperança, pelo casamento dos pais. Naquela semana, surpreendentemente, o Senhor restaurou o casamento de seus pais. A partir daí, Sebastião tornou-se o companheiro mais fiel de oração de Daniel.
Passaram-se dois anos da prisão e lá o rapaz entregara sua vida a Jesus verdadeiramente. Pedro foi solto finalmente e o irmão, junto de Sebastião, iniciou um estudo bíblico com ele, que crescia cada dia mais na fé e endireitava o seu caminho.
Certo dia, Pedro confidenciou a Daniel:
– Em cada momento da minha vida, sinto o agir de Deus e sei que é por causa das suas orações. Isso me encoraja. Mano, Deus está me chamando para ser um missionário. Tenho pensado nisso há algum tempo. Tenho falado com algumas pessoas, e estão querendo que eu trabalhe entre indígenas, e eu quero ir. Mas preciso que continue orando por mim ou me arrebento. Cara, preciso que você continue me sustentando em oração!
Os dois irmãos choraram juntos. Pedro foi, e Daniel movimentou a igreja. Assumiu o conselho missionário e organizou com Sebastião uma reunião de oração ininterrupta, em escalas, pelos povos não alcançados pelo evangelho, pelos missionários e pelo irmão. Em seu campo missionário, na floresta amazônica, cada novo desafio Pedro assumia com coragem pois sabia que seu irmão orava: e Deus agia. Quando se deparava com a floresta íngreme e intocada; quando interceptava uma cobra prestes a atacar; quando a embarcação escapava de encalhar no rio… apesar dos inúmeros obstáculos, Pedro lembrava-se do irmão de joelhos ao pé da cama. Quando Pedro pregou pela primeira vez na língua nativa; quando batizou os primeiros cristãos; quando a igreja recém-nascida adorou a Deus com seus primeiros cânticos; quando os primeiros livros da Bíblia foram traduzidos; quando surgiram as primeiras lideranças da igreja; Pedro vivia tudo aquilo como se o irmão estivesse ali, ao seu lado, de joelhos, em oração.
“Amada igreja, orem pelo povo vizinho, nosso novo desafio, pois é um povo violento, que não conhece Jesus e não permite nossa entrada. Pedro”.
Daniel recebeu a notícia do irmão como uma ordem. Nesse interím, no entanto, Ana, a ex-namorada de Pedro, apaixonara-se por Daniel de tanto participarem juntos das reuniões de oração. Mas Daniel estava com outros pensamentos. Ana ficou um ano orando pelo namoro para só então surtir efeito, e Daniel pedi-la em namoro, sem saber daquela espera. Bom, quando ficou sabendo, pediu ela em casamento! E foi Pedro quem o realizou. Foi uma festa muito bonita!
“Querida igreja, nossas investidas para apresentar o evangelho à tribo vizinha tem continuado, mas tem se mostrado perigosas. Em nossa última visita, eu e meus companheiros fomos atacados com lanças e flechas, mas, pela graça de Deus, nada aconteceu. Pedro”.
Daniel estava ficando neurótico com aquela resistência daquele povo em receberem o evangelho. Caminhava nervoso em sua casa. Ana procurava acalmá-lo, e oravam juntos incessantemente.
Acontece que algo tirou a atenção do casal, as tentativas frustradas em ter filhos e o seguinte teste de fertilidade, mostrando que Ana era estéril.
Profundamente frustrados e tristes, sentiram-se constrangidos de pedir um milagre. Buscavam esquecer aquilo e voltavam a envolver-se em seus afazeres.
Certa vez, Ana resolveu passar uns dias na casa da mãe, pois não passava bem. Daniel aproveitou aquele tempo sozinho e se ajoelhou por três dias em jejum e oração pela tribo resistente de Pedro.
No final desses três dias, Pedro recebeu visitas em sua casa na aldeia.
– Quem são? – perguntou.
Eram cinco. Aquele que parecia ser o chefe da tribo falava depressa sobre um sonho que se repetia por três noites seguidas:
– Um homem com cicatriz no nariz apareceu a nós, em nossos sonhos – dizia – ele nos disse para procurar um homem nesse lugar que nos ensinaria as coisas do céu. Queremos ouvir as coisas do céu.
Três meses depois, Ana e Daniel louvaram a Deus juntos pelos dois sinais do teste positivo de gravidez. Celebraram com um grande banquete.