Conheça um pouco sobre as línguas hebraica, aramaica e grega, em que a Bíblia foi escrita
Você sabia que os apóstolos não escreveram suas cartas na Nova Versão Internacional? E que Moisés não escreveu o pentateuco na Linguagem de Hoje?
Mas, afinal, quais as línguas em que a Bíblia foi escrita originariamente?
O Antigo Testamento foi escrito em Hebraico, com algumas passagens em Aramaico. Já o Novo Testamento foi escrito em um Grego específico da época. Vamos conhecer um pouco dessas línguas?
Hebraico
O hebraico é um dialeto do grupo ocidental das línguas semíticas, como o árabe e o ugarítico; e está dentro da família das línguas cananitas, como o fenício e o púnico.
O hebraico lê-se da direita para a esquerda, como o árabe. Possui um alfabeto com 22 duas consoantes, que foi emprestado do alfabeto fenício. Estas consoantes abrem as estrofes do Salmo 119.
A língua clássica, no entanto, é uma língua impronunciável por não ter vogais. O sistema atual de vogais foi criado apenas por volta século IX e X, pelos massoretas de Tiberíades. Foi nesse período que se iniciou o estudo do hebraico clássico, quando foi criada também sua primeira gramática, redigida por Saadia.
A língua foi assimilada pelo povo de Deus com a chegada de Abraão em Canaã, quando, provavelmente, ele passou a falar a língua corrente.
Na Bíblia, o hebraico é chamado de língua de Canaã (Is.19.18) e, posteriormente, de língua judaica (Ne.13.24).
No entanto, mesmo dentro das tribos de Israel, havia variações de dialeto e sotaques distintos. Vocês se lembram da encrenca entre os efraimitas e os gileaditas, em Juízes 12.5-6? Os gileaditas desvendavam um mentiroso efraimita conferindo a maneira como pronunciavam “Chibolete” ou “Sibolete”.
A história da língua
O hebraico bíblico possui duas grandes épocas distintas de desenvolvimento. A idade do ouro vai do nascimento da nação até o cativeiro babilônico, e a idade da prata vai do cativeiro até a língua ser absorvida totalmente pelo aramaico. Assim, a idade do ouro começa a terminar com a primeira destruição de Jerusalém, pelos babilônios, em 607 a.C.
Por isso, os israelitas falaram o hebraico clássico até o cativeiro, mas a língua foi aos poucos suplantada pelo aramaico. No retorno do cativeiro, a nação já não compreendia sua língua antiga, por isso, quando o Livro da Lei era lido, os levitas precisavam explicá-la, pois ninguém mais a entendia:
“Leram o Livro da Lei de Deus, interpretando-o e explicando-o, a fim de que o povo entendesse o que estava sendo lido” Ne 8.8.
No entanto, o hebraico continuou sendo, por algum tempo, a língua literária e religiosa, por isso, os livros escritos depois do exílio foram escritos em um hebraico com forte influência do aramaico.
O hebraico moderno
O hebraico renasceu como língua falada apenas no final do século XIX e XX, pelo esforço do linguísta Eliézer Ben-Yehuda, um judeu nascido na Rússia.
Quando sentiu-se a necessidade de uma língua comum para ser falada pelos judeus da díaspora, seu trabalho passou a ser reconhecido e a língua retornou para seu povo.
Grego
O grego é a língua em que foi escrito o Novo Testamento, e na qual o Antigo Testamento foi traduzido, surgindo a famosa Septuaginta.
O grego utilizado para escrever o NT é uma variação chamada de Grego Koinê (ou comum). Este dialeto era falado e escrito no tempo do helenismo, a partir de Alexandre em 300 a.C, até cerca de 500 d.C. O Koiné era a língua comum falada no Império Romano, que substituiu a pluralidade de dialetos gregos. A base do Koiné é o dialéto ático, enriquecido com o dialeto iônico. O dialeto se espalhou com as conquistas de Alexandre, criando uma unidade cultural no Império.
Ela era a língua internacional do período helenístico e foi a língua de transição entre o grego clássico e o moderno. Esta língua levou a cultura grega para todo o império.
No entanto, o grego do Novo Testamento possui uma variação própria, pois o Koinê Bíblico tem forte influência do hebraico. Esta influência se deve ao fato do Novo Testamento ter sido escrito a partir de fontes aramaicas e hebraicas. Além disso, foi escrito por muitos autores cuja língua materna era o aramaico. E também, a tradução do Antigo Testamento para esta língua, a Septuaginta, traduzida por volta de 250 a.C, exercia forte influência no grego de alguns autores do Novo Testamento.
Os autores do Novo Testamento possuíam diferentes formas de dominar a língua. Lucas, autor do Evangelho e de Atos, tinha ela com língua materna, e escrevia num grego mais erudito. O autor de Hebreus também possuía domínio erudito da língua. Mateus, no entanto, possuía uma linhagem com mais feições semíticas, assim como os escritos do evangelista Marcos. Já João, autor do evangelho, das cartas e de Apocalipse, possuía forte hebraísmo e até com alguns erros gramaticais. O apóstolo Paulo, autor de treze cartas, por ter nascido na diáspora , escreveu numa linguagem mais emocionada.
A Palestina era uma região multilinguística, como podemos ver em Jo.19.20. A própria igreja nasceu com essa divisão de línguas, que parece ter sido um problema no início (Atos 6.1). O apóstolo Paulo conseguia se comunicar com o seu povo tanto em hebraico (Atos 22.2), quanto em grego, para os gentios (Atos 9.29). Jesus fala com Paulo em aramaico (Atos 26.14).
Aramaico
O Aramaico é uma língua semítica, como o hebraico. Ela possui o mesmo alfabeto do hebraico, diferindo nas vogais e na estrutura gramatical.
Ela possui sua origem nas línguas das tribos dos arameus, descendentes do filho de Sem, Arã. Estes povos dominaram a Síria e a Palestina. Israel, Moabe, Edom e Amon foram conquistados por estes povos e acabaram adotando a língua.
O Aramaico chegou a ser o dialeto principal da região, e foi a língua diplomática no século 5 a.C para uma boa parte da Pérsia. Posteriormente, foi suplantado pelo árabe.
Embora o hebraico e o aramaico tenham tido uma origem comum, as línguas não eram assim tão semelhantes. Vocês se lembram do episódio, narrado em 2a Reis 18 quando os servos do rei de Ezequias, rei de Judá, falaram ao comandante da Assíria, em conversa próximo da cidade. A fim de não causar medo na cidade, eles pedem:
“Por favor, fala com teus servos em aramaico, porque entendemos essa língua. Não fales em hebraico, pois assim o povo que está sobre os muros entenderá” (2Rs.18.26).
Neste texto, vemos como o aramaico era distinto do hebraico.
O aramaico começou a ser falado entre o povo de Israel a partir do cativeiro babilônico, em 607 a.C, substituindo o hebraico, e se tornou a língua do povo até o período do Novo Testamento.
Assim, o Aramaico era a língua falada nos tempos de Jesus (Jo.5.2) e pelo próprio Jesus (Mc.5.41, Atos 26.14). No entanto, havia variações do Aramaico de Jerusalém e da Judéia (Mt.26.73).
Os trechos do Antigo Testamento em Aramaico são: Ed.4.8-6.18; 7.12-16; Dn.2.4-7.28 e Jr.10.11.
Fonte:
Dicionário enciclopédico da Bíblia, Van Den Born (esgotado)
Noções do grego bíblico, Stelio Rega e Bergmann
Dicionário da Bíblia, John D. Davis
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