024 – O homem por trás de uma grande mulher

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“Ditados do rei Lemuel; uma exortação que sua mãe lhe fez: ‘Ó meu filho, filho do meu ventre, filho de meus votos…'” (Pv 31.1-2).


Há um ditado popular que diz que por trás de um grande homem há uma grande mulher. O ditado está passando por revisionismo devido à má compreensão de que ele aponte para alguma inferioridade da mulher diante do homem. Mas não é isso que o ditado diz. Diz, sim, que um homem é completado em suas virtudes por uma companheira que seja virtuosa. Que o homem está mais capacitado para grandes realizações e para grandezas morais quando ele tem uma grande companheira ao seu lado. Aliás, poderíamos inverter o ditado e teria resultado semelhante. Por trás de uma grande mulher há um grande homem. Ambas as frases nos falam do papel de complementaridade entre homem e mulher no casamento.

Na Palavra de Deus, há um texto muito conhecido para se falar de uma grande mulher: é Provérbios 31, o conhecido texto da Mulher Virtuosa. Mas se você observar bem, o capítulo 31 só começa a falar da mulher virtuosa no versículo 10. Antes, porém, há 9 versículos com preciosos conselhos de uma mãe a seu filho. Daí o título: antes de se falar em mulher virtuosa, a Palavra de Deus exorta o homem para ser virtuoso.

Provérbios 31.1-9 trata dos conselhos de uma mãe a um filho que lhe foi dado por voto (v. 2) e que seria rei. O rei é chamado de Lemuel. Não sabemos exatamente que rei era esse, nem quem era sua mãe, nem onde reinaria. Sabemos que são os conselhos de uma mãe sábia e piedosa (Lemuel significa “dedicado a Deus”) que foram separados pelo Espírito Santo para exortar a todos aqueles que buscam as virtudes necessárias para ser um rei.

Sendo, porém, o rei um modelo de conduta para todos os homens, sendo que as responsabilidades dadas por Deus a todos os homens são chamadas de domínios (Gn.1.26); sendo ainda que Deus fez do homem cabeça da família, além de ter sido ele chamado para liderar como oficial em uma igreja, por tudo isso é proveitoso tomarmos para nós, homens, essas virtudes como anseios e modelos de conduta tão preciosos quanto o são aqueles em seguida (v. 10-31), para as mulheres.

São três os conselhos dados pela mãe de Lemuel a seu filho, que podem ser resumidos em três palavras: castidade, sobriedade e compaixão. Falemos de cada um deles.

Castidade

“Não gaste sua força com mulheres, seu vigor com aquelas que destroem reis” (Pv 31.3).

A exortação amorosa da mãe foi bem direta: cuidado com as mulheres! Elas são ardilosas. Seu poder é capaz de destruir até mesmo os reis. É bom que esse conselho venha de uma mulher. Um pai amoroso também aconselharia o mesmo, como o faz em Provérbios 5.3,4: “os lábios da mulher imoral destilam mel; sua voz é mais suave que o azeite, mas no final é amarga como fel, afiada como uma espada de dois gumes”, e no capítulo 7, falando de sua “astúcia no coração” (v. 10), e de sua sua casa, que é um “caminho que desce à sepultura” (v. 27).

A mulher enganosa é ardilosa e suga a força de homens ingênuos e tolos. Falando em força e em mulher enganosa, lembremos de Sansão, consagrado a Deus, juiz sobre Israel. Foi a sedução e as palavras ardilosos que levaram a força do herói da fé. Sansão poderia ter sido o maior de todos os juízes de Israel. Seu nascimento foi milagroso. Foi consagrado desde o nascimento. Sua força era um prodígio de Deus. Foi chamado por Deus para libertar Israel do maior dos seus inimigos – os filisteus. Mas seu governo não foi longo (20 anos. O maior foi de 40 anos) e seu fim foi vergonhoso: cego e escravo. Ele destruiu tudo o que Deus o deu por causa do mel destilado pelos lábios da mulher proibida.

Mas a luxúria é uma praga que fere grandes homens também. Lembremos de Davi e de seu vergonhoso, cretino e criminoso pecado com Bate-Seba. Pense em todas as suas derrotas por causa desse pecado, em todos os seus sofrimentos. A perda de um filho, o ódio de outro filho. Davi nunca mais foi o mesmo depois do pecado com Bate-Seba.

Mas o conselho não fala de todas as mulheres, evidentemente. Temos a sequência apontando a preciosidade da mulher virtuosa como prova disso. Melhor do que o adocicado fel destilado dos lábios da mulher enganosa são as águas abundantes e frescas bebidas da fonte da mulher da mocidade. Diz o pai ao filho: “Beba das águas da sua cisterna, das águas que brotam do seu próprio poço. (…) Seja bendita a sua fonte! Alegre-se com a esposa da sua juventude.” (Pv 5.15-18).

Se reis e homens não foram chamados para o celibato, devem com pressa e dedicação buscar a mulher da mocidade, casar-se com ela e guardar sua imaginação amorosa somente para ela. As delícias do “vinhedo do amor” (Ct 2.15) do “pastoreio entre os lírios” (Ct 6.3), do deitar-se com aquela cujo peito foi selado com o seu nome num jardim fechado apenas para os dois, essas delícias são o presente que Deus deu ao homem para preservar-se casto do amor proibido e impuro. A dedicação e o esforço em manter-se “doente de paixão” (Ct 5.8) e embriagado pela beleza da própria esposa o livrará do laço imundo, da queda burra, do prazer cretino.

A castidade num leito sem mácula é um lírio diante dos espinhos perfumados das mulheres vulgares (Ct 2.2).

Sobriedade

“Não convém aos reis, ó Lemuel; não convém aos reis beber vinho, não convém aos governantes desejar bebida fermentada, para não suceder que bebam e se esqueçam do que a lei determina, e deixem de fazer justiça aos oprimidos. Dê bebida fermentada aos que estão prestes a morrer, vinho aos que estão angustiados; para que bebam e se esqueçam da sua pobreza, e não mais se lembrem da sua infelicidade.” (Pv 31.4-7).

O segundo conselho materno pode ser resumido numa palavra: sobriedade, especialmente sobriedade para julgar.

Todos os reis e todos nós, homens, fomos chamados para julgar entre o verdadeiro e o falso, entre o justo e o injusto, entre o feio e o belo, entre o bom e o mau. Nada pode afetar o seu discernimento, por mais prazeroso que seja, e sobretudo o que há de mais prazeroso.

O conselho é voltado para a bebida alcoólica: “não convém aos reis beber vinho, não convém aos governantes desejar bebida fermentada, para não suceder que bebam e se esqueçam do que a lei determina, e deixem de fazer justiça aos oprimidos” (v. 4-5).

No próprio livro de Provérbios o vinho é tido como um produto que dá alegria e prazer. O homem, porém, tal como ocorre em relação às mulheres, deve aprender a dominar-se para não ser controlado pelos próprios prazeres. Temos um triste exemplo logo nos primeiros pais, em tempos primitivos, em Noé: Gn. 9.20-25. Noé plantou uma vinha e deixou-se dominar por completo, a ponto de atrair maldição contra um dos filhos e vergonha para os outros. O próprio apóstolo Paulo nos adverte a não nos deixarmos dominar pelo vinho, mas a encontrar aquela alegria que o vinho dá através do relacionamento com o Espírito Santo (Ef 5.18).

Porém podemos abranger o conselho da sobriedade para além da bebida, podemos abranger para tudo aquilo que nos tira a capacidade de julgarmos com discernimento. O homem deve sondar o próprio coração para averiguar se tudo o que ele ama está tirando a sua própria razão. Podemos falar do vídeo-game, entretenimento tão comum em homens adultos; da pornografia, do celular… mas gostaria de destacar dois vícios mais profundos e difíceis de discernir que roubam do homem a capacidade de decidir com justiça e sabedoria.

O livro de Provérbios fala abundantemente do juiz que recebe presentes e tem o seu coração corrompido pelos ricos (Pv 17.23, 19.6, 29.4). O homem fraco para os presentes, para a adulação e para o elogio público é um juiz corrompido, um rei manipulável, um homem pouco confiável. Para o homem apaixonado por si mesmo, deslumbrado com seus próprios feitos, o elogio, os presentes, a adulação é pior que o vinho. Ela corrompe o juízo, tira o discernimento, embriaga o homem. O homem virtuoso não está à venda. Ele reconhece a astúcia do bajulador. Ele sabe que a repreensão do amigo é melhor que o beijo do traidor (Pv 27.6).

Além do vinho e da adulação, a ambição desenfreada também pode embriagar o homem. Quando estamos sedentos por poder, pela fama, pelas riquezas, pelo sucesso profissional, não conseguimos mais enxergar nada a nossa volta. Todos são inimigos ou aliados, tudo é obstáculo ou tapete onde devemos pisar. Vejamos Saul. Quando Samuel o chamou para ser rei de Israel, não havia ambição em seu coração e ele recebeu o chamado com humildade (1Sm 9.21). Em algum momento, porém, nasceu a cobiça em seu coração, e ele se tornou completamente perturbado. Começou a ser dominado pela ira, pela inveja, e seus aliados se tornaram inimigos, e seus filhos se tornaram odiosos. Saul perdeu tudo porque ficou cego. A ambição o tirou a sobriedade.

Todas essas coisas, o excesso de vinho, de vídeo-game, a pornografia, a adulação, a ambição desenfreada, tudo isso é anestésico para os fracos. É essa realidade crua e cruel que ensina a mãe do rei: “Dê bebida fermentada aos que estão prestes a morrer, vinho aos que estão angustiados; para que bebam e se esqueçam da sua pobreza, e não mais se lembrem da sua infelicidade.” (Pv 31.6,7).

Mas o homem chamado por Deus para reinar sobre o mundo, governar bem o seu lar, ministrar em sua igreja não pode ser fraco. Ele precisa ser sóbrio, fortalecido diariamente pelo poder de Deus que habita nele, dominado pelo Espírito Santo.

Compaixão

“Erga a voz em favor dos que não podem defender-se, seja o defensor de todos os desamparados. Erga a voz e julgue com justiça; defenda os direitos dos pobres e dos necessitados” (Pv 31.8,9).

Agora a mãe está chamando o filho a lembra-se de uma das virtudes mais difíceis de ser cumprida com verdadeira santidade, especialmente por um homem: a compaixão, o amor ao próximo.

O homem é especialmente tentado pelo orgulho. Todo homem se ama regaladamente. A Bíblia nunca nos fala para nos amarmos mais. Ela sempre nos adverte a nos amarmos menos. Quando a Bíblia nos ordena a amar o próximo, ela toma como referência inclusive o amor que temos por nós mesmos. Quando a Bíblia ordena ao homem a amar a sua mulher, ela ordena tendo como referência o amor que o homem tem pelo próprio corpo e por si mesmo (Ef 5.28). Deus sabe que, se o homem amar alguém como ama a si mesmo o problema estaria resolvido, seria infalível, pois todo homem é apaixonado por si mesmo. Por isso, o homem sempre. Sempre. Sempre faz tudo por si mesmo. Diferente de Timóteo, diz Paulo: “todos buscam os seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo” (Fp 2.21).

Por isso, quando a mãe ordena, duas vezes, para o rei erguer a voz em favor dos fracos, ela está colocando nas mãos do rei uma responsabilidade muito difícil, a de ajudar aqueles que nunca retribuirão. Mas é ainda maior que isso: a responsabilidade de colocar o mundo em ordem.

O homem foi chamado para servir. Servir a Deus e servir ao próximo. E o próximo é aquele que precisa de mim. Aquele que está numa situação de desamparo. É fácil saber disso. É difícil manter-se nisso.

Davi, homem segundo o coração de Deus, teve um ato de grande hombridade ao poupar a vida de seu inimigo Saul quando esteve em suas mãos, na caverna (1Sm 24.5-7), mas foi muito baixo quando decidiu matar Nabal porque ofendeu o seu orgulho, no capítulo imediatamente seguinte (1Sm 25.12-13). Davi largou o chamado de Deus para lutar as próprias batalhas. Foi Abigail, esposa de Nabal, que o fez recobrar a razão: “Agora, meu senhor, juro pelo nome do Senhor e por tua vida que foi o Senhor que o impediu de derramar sangue e de vingar-se com tuas próprias mãos. (…) Esqueça, eu te suplico, a ofensa de tua serva, pois o Senhor certamente fará um reino duradouro para ti, que travas os combates do Senhor” (1 Sm 25.26-28).

Abigail faz Davi se lembrar que ele não foi chamado para empunhar a espada por batalhas mesquinhas, batalhas pessoais, mas para lutar as batalhas do Senhor.

Nosso Senhor Jesus, enfim, é um grande exemplo de castidade no modo como lidou com as mulheres, inclusive com mulheres imorais. É nosso exemplo de sobriedade, sempre equilibrado com as palavras e as ações. É, ainda mais, nosso modelo no serviço e na compaixão. Quando iniciou o seu ministério, assim o descreveu: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor” (Lc 4.18,19).

O Senhor Jesus encarnou e ergueu a voz em favor dos desamparados. Ele consolou a adúltera, o corrupto, o pescador, o leproso, o aleijado, o cego, a estrangeira, os famintos, os desesperados. Sua vida foi exemplo de compaixão. E também sua morte. Ele não apenas ergueu a voz. Ele ergueu seu corpo nu e sangrando no madeiro maldito. Fez isso para expiar os pecados dos sobrecarregados e cansados. Jesus é o modelo do perfeito varão.

A mulher de Lemuel certamente não sabia, mas ela estava apontando Jesus para o seu filho. O modelo de rei perfeito. O modelo de pai, marido, servo. Quando ela ensinou seu filho sobre como tratar uma mulher – com castidade; com lidar com os desejos – com sobriedade; e como tratar o próximo – com compaixão, ela ainda não sabia, mas esse rei iria encarnar e se revelar aos homens.

Hoje, a todos os homens que governam sobre seus lares, servem em seus trabalhos e na igreja, o Senhor Jesus nos chama: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio” (Jo 20.21). Ele sim é o noivo virtuoso para a sua noiva.


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