A vida de Jacó

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Na Canaã do Século XX a.C, na Canaã dos patriarcas, peregrinou Jacó, vivendo histórias de mentiras, intrigas familiares e até uma luta com Deus. Conheça a história do homem que foi chamado de Israel

1) Nascimento de Esaú e Jacó (Gn.25.21-26)

Por volta de 2006 a.C, nasceram os gêmeos Esaú e Jacó. Embora Rebeca fosse estéril, Isaque, seu marido, orou, e ela concebeu gêmeos.

Já na gravidez, os dois meninos brigavam entre si, e isso já era um sinal de que seriam duas nações rivais. No dia do nascimento, Esaú foi o primeiro a sair. Ele era ruivo e peludo. O segundo foi Jacó, que saiu agarrado ao tornozelo do irmão.

2) “Compra” do direito de primogenitura (Gn.25.27-34)

“Esaú vende o direito de primogenitura” por Hendrick ter Bruggen, 1627

Os meninos cresceram. Esaú tornou-se caçador, vivia nos campos e era amado pelo pai. Jacó, por sua vez, era pastor, vivia em tendas e era o preferido da mãe.

Uma vez, Esaú chegou esfomeado em sua casa e viu que seu irmão havia feito um ensopado de lentilhas. Jacó, no entanto, barganhou a comida, pedindo em troca o direito de filho mais velho, fazendo-o jurar.

Esaú, insensatamente, jurou dar ao irmão mais novo os direitos de primogenitura.

3) Engano na bênção da primogenitura (27.1-40)

“Isaque abençoa Jacó”, por Gerrit Willemsz Horst, 1638

Quando Isaque já estava muito velho, chamou seu filho Esaú e pediu-lhe que lhe preparasse um prato com um animal caçado pelo filho. Depois de saborear o prato, o pai iria dar as bênçãos de um primogênito a Esaú.

Nesse ínterim, Rebeca e Jacó começaram a armar para Isaque. A mãe pediu que o filho amado buscasse dois cabritos de seu rebanho. Ela prepararia um prato do jeito que o marido gostava, para que Jacó levasse, e Isaque o abençoasse no lugar do irmão.

Depois de preparado o prato, Rebeca pegou as roupas de Esaú e colocou-as em Jacó. Além disso, cobriu Jacó com a pele de cabrito, para que se parecesse com os braços peludos do irmão e confundisse Isaque. Assim, Jacó pegou a refeição e foi falar com o pai, como se fosse o irmão.

Jacó foi a Isaque que, um pouco cego da velhice, não reconheceu o engano e acabou abençoando Jacó com a bênção de primogenitura.

Logo em seguida, chegou Esaú e foi até seu pai, quando então os dois descobriram o embuste. Mas aí já era tarde demais, e não restou nenhuma bênção para Esaú.

4) Ira de Esaú e fuga de Jacó (Gn.27.41-28.9)

“A partida de Jacó”, Rodolfo Amoedo, 1884

Esaú se irou contra o irmão e ameaçou se vingar dele.

Rebeca, preocupada com o filho mais amado, decidiu enviar Jacó para Padã, para a casa de seu irmão Labão, sob o pretexto de conseguir uma esposa entre os seus familiares.

Assim, Isaque despediu o filho Jacó, ordenando-lhe que conseguisse uma esposa entre seus parentes e então o abençoou.

Sabendo disso, Esaú ficou ainda mais irado, pois ele mesmo havia casado com mulheres cananéias. Por isso, ele foi até a família de Ismael e tomou Nebaiote por esposa.

5) Visão da escada em Betel (28.10-22)

“O sonho de Jacó”, por William Blake, 1805

No caminho até a casa de seus parentes, em Parã, Jacó resolveu descansar e dormiu, colocando a cabeça sobre uma pedra.

Teve o seguinte sonho: uma escada descia dos céus até a terra, e anjos subiam e desciam dela. Ao seu lado, o Senhor o abençoou com a mesma bênção de Abraão e Isaque, prometendo-lhe a terra, uma descendência, e que estaria com ele em todos os caminhos.

Por causa disso, Jacó chamou aquele lugar de Betel, que significa “Casa de Deus”, e com a pedra que havia deitado, erigiu uma coluna.

6) Encontro com Raquel (29.1-14)

“Jacó e Raquel”, por James Tissot, 1902

Jacó chegou à Mesopotâmia e encontrou-se com três rebanhos de ovelhas, junto a um poço fechado com uma pedra.

Perguntou aos pastores das ovelhas sobre Labão, seu tio. Os pastores responderam que ele ia bem, e apontaram para sua filha Raquel, que vinha chegando com suas ovelhas.

Quando Jacó viu Raquel, moveu a pedra para abrir o poço e deu de beber às ovelhas dela. Depois, deu um beijo nela e começou a chorar emocionado, revelando quem ele era.

Raquel correu contar a Labão sobre Jacó, e Labão veio ao seu encontrou, abraçou-o, beijou-o e o levou à sua casa.

7) Casamentos de Jacó (29.15-29)

“Jacó trabalhou sete anos por Raquel, mas lhe pareceram poucos dias, pelo tanto que a amava” (Gn.29.20)

Depois de um mês servindo na casa de Labão, Jacó propõs trabalhar por sete anos em troca de casar-se com a filha mais nova Raquel.

Após esses sete anos, Jacó foi a Labão cobrar a dívida, e ele preparou o casamento. No entanto, Jacó foi enganado. Na noite das núpcias, ao invés de dar sua filha mais nova Raquel, Labão deu sua filha Lia, junto da serva Zilpa.

No outro dia, Jacó foi reclamar a Labão o engano. O sogrou explicou-lhe ser necessário primeiro entregar a mais velha, mas prometeu entregar-lhe também Raquel, em troca de mais sete anos de trabalho.

Assim, passou-se uma semana, e Jacó recebeu Raquel em casamento, junto da serva Bila. E Jacó trabalhou mais sete anos por causa desse segundo casamento.

8) Filhos de Jacó (29.31-30.24)

Lia foi uma esposa fértil para Jacó, mas Raquel era estéril.

Lia teve os seguintes filhos:

  • Rúben: “O Senhor viu a minha infelicidade. Agora, certamente o meu marido me amará” (29.32).
  • Simeão: “Porque o Senhor ouviu que sou desprezada, deu-me também este” (29.33).
  • Levi: “Agora, finalmente, meu marido se apegará a mim, porque já lhe dei três filhos” (29.34).
  • Judá: “Desta vez louvarei ao SENHOR” (29.35).
A galerinha de Jacó não era brincadeira

Depois de um tempo, Lia ainda teve mais dois filhos. Um destes, foi gerado por uma troca com Raquel, que deu a Lia o direito de deitar-se com Jacó em troca de mandrágoras.

  • Issacar: “Deus me recompensou por ter dado a minha serva ao meu marido”(30.18);
  • Zebulom: “Deus presenteou-me com uma dádiva preciosa. Agora meu marido me tratará melhor; afinal já lhe dei seis filhos” (30.20);
  • e uma filha, Diná.

Raquel, enciumada por Lia, pegou sua serva Bila e fez com que ela se deitasse com seu marido, para que gerasse filhos para ela. Os filhos da serva Bila foram:

  • Dã: “Deus me fez justiça, ouviu o meu clamor e deu-me um filho” (30.6);
  • Naftali: “Tive grande luta com minha irmã e venci” (30.8).

Pela intensa competição, Lia também deu a Jacó sua serva Zilpa, que teve os seguintes filhos:

  • Gade: “Que grande sorte!” (30.11);
  • Aser: “Como sou feliz! As mulheres dirão que sou feliz” (30.13).

Finalmente, Deus concedeu à Raquel conceber. Seu primeiro filho foi:

  • José: “Que o Senhor me acrescente ainda outro filho” (30.24);

Mais para frente, Raquel terá também mais um filho, e morrerá no parto (35.18).

  • Benjamim: “filho da minha direita”.

9) Estratégia de Jacó (30.25-43)

Jacó decidiu retornar à sua terra, mas, antes, fez um acordo com Labão, para que não retornasse de mãos vazias.

Disse que continuaria trabalhando para Labão, desde que seu salário fossem as cabras e ovelhas salpicadas e manchadas, e os cordeiros pretos. Assim, Labão permitiu.

Jacó, no entanto, preparou uma estratégia. Fez uma armação feita de galhos verdes de estoraque, amendoeira e plátano, descascou os galhos em tiras de modo que ficassem listrados e os colocou à vista dos animais, próximo ao bebedouro. Além do mais, quando as ovelhas fortes estavam no cio, colocava-as para acasalarem próximo ao bebedouro e à armação. Quando as fracas estavam no cio, retirava a armação. Deste modo, nasceram muitas ovelhas fortes e malhadas e Jacó enriqueceu.

Deu certo!

10) Fuga de Jacó (31.1-21)

Deus fez com que o rebanho de Jacó crescesse cada vez mais, e isso causou inveja e ciúmes em Labão e seus filhos. Percebendo isso, e sendo ordenado por Deus para retornar à terra de seus pais, Jacó chamou sua família.

Jacó relatou às suas esposas a animosidade de Labão e sobre como Deus o havia enriquecido e o havia ordenado a retornar para Canaã. As esposas reconheceram o erro do pai e concordaram em fugir com o marido.

Assim, Jacó pegou suas esposas, seus filhos, seu rebanho, e fugiu às escondidas de Labão, deixando Padã-Arã, atravessando o Eufrates e seguindo para os montes de Gileade.

Antes de fugir, Raquel roubou alguns ídolos de clã de seu pai Labão.

11) Aliança entre Labão e Jacó (31.22-55)

“Labão faz uma aliança com Jacó”, Gerard Hoet, 1728

Três dias depois, Labão percebeu a fuga de Jacó e foi em sua busca. Labão buscou as filhas por sete dias, até encontrá-los na região de Gileade. Ali, em sonhos, Deus apareceu a Labão para que não ameaçasse nem fizesse promessas a Jacó.

Em seguida, Labão encontrou-se com Jacó e reclamou de sua fuga e do roubo de seus ídolos do lar. Jacó se defendeu, pedindo que Labão procurasse e, se houvesse roubado algo de Labão, poderia resgatar novamente.

Labão procurou pelos seus ídolos do lar nas tendas de Jacó, e nada encontrou. Raquel havia escondido com ela os ídolos.

Assim, Labão e Jacó estabeleceram uma aliança, ergueram um memorial de pedras chamado Galeede, ou Mispá, e Jacó ofereceu um sacrifício.

No outro dia, Labão retornou para sua terra.

12) Encontro com anjos (32.1-2)

Enquanto Jacó seguia seu caminho, alguns anjos vieram ao seu encontro. Quando os viu, Jacó exclamou:

“Este é o exército de Deus!” (32.2)

E chamou o lugar em que os encontrou de Maanaim.

13) Preparação para encontro com Esaú (32.3-21)

Jacó ficou com muito medo por causa da notícia de que seu irmão Esaú estava vindo até ele. Por isso, tomou as seguintes providências:

  • dividiu todo o seu grupo em dois, pois “se Esaú vier e atacar um dos grupos, o outro poderá escapar” (32.8);
  • orou a Deus pedindo socorro (32.9-12);
  • separou o seguinte presente para Esaú: 200 cabras; 20 bodes; 200 ovelhas; 20 carneiros; 30 fêmeas de camelo e seus filhotes; 40 vacas; 10 touros; 20 jumentas; 10 jumentos

Então, organizou de modo que cada um desses rebanhos fossem à sua frente em direção ao irmão, com um servo guiando o rebanho. E Jacó deu aos servos a seguinte instrução:

“Quando meu irmão Esaú encontrar-se com você e lhe perguntar: ‘A quem você pertence, para onde vai e de quem é todo este rebanho à sua frente?’, você responderá: É do teu servo Jacó. É um presente para o meu senhor Esaú; e ele mesmo está vindo atrás de nós” (32.17-18).

14) Luta com Deus no vale de Jaboque (32.22-32)

“Jacó luta com um anjo”, Gustave Doré, 1855

Então, Jacó juntou suas duas esposas, duas servas e seus onze filhos e os atravessou no Vale de Jaboque. Em seguida, passou todo o seu rebanho, de modo que ficasse sozinho no vale.

Durante a noite, apareceu um homem, com quem Jacó lutou durante toda a noite. Quando chegou o amanhecer, o anjo deslocou a coxa de Jacó.

Querendo ir embora, Jacó não o permitiu, pedindo que antes o abençoasse.

O anjo perguntou-lhe o nome, e em seguida, disse:

“Seu nome não será mais Jacó, mas sim Israel, porque você lutou com Deus e com homens e venceu” (32.28)

E o anjo abençoou a Jacó. Por isso, Jacó chamou aquele lugar de Peniel.

Ao nascer do sol, Jacó atravessou o vale, mancando da coxa.

15) Encontro com Esaú (33)

Reconciliação entre Jacó e Esaú” por Peter Paul Rubens, 1624

Quando Esaú se aproximou, Jacó colocou as servas e os filhos à frente, Lia e os filhos depois e Raquel e José por último.  Ele foi à frente e curvou-se diante do irmão.

Surpreendentemente Esaú correu ao encontro do irmão e o abraçou, num encontro emocionante. Ambos choraram.

Jacó apresentou a família, e ofereceu a oferta de comunhão, dizendo:

“Se te agradaste de mim, aceita este presente de minha parte, porque ver a tua face é como contemplar a face de Deus; além disso, tu me recebeste tão bem!” (33.10).

Em seguida, Esaú retornou para Seir. Jacó, todavia, foi à região que chamou de Sucote, e ali construiu uma casa.

Depois, acampou próximo à cidade de Siquém , onde comprou um campo dos filhos de Hamor por cem peças de prata, local onde edificou um altar a Deus e que chamou El Elohe Israel, que significa “poderoso é o Deus de Israel”.

16) Diná e os Siquemitas (34)

Jacó descobriu que sua filha Diná fora desonrada pelo príncipe Siquém. Por isso, Hamor, pai de Siquém, foi conversar com Jacó, para casar o príncipe com a moça.

Mas os filhos de Jacó foram traiçoeiros. Fingiram que aceitaram o casamento, propondo que toda a cidade circuncidasse. Mas, três dias depois, eles mataram todos da cidade para vingar-se da irmã.

Jacó repreendeu os filhos Simeão e Levi.

17) Bênção em Betel (35.1-15)

Deus ordenou que Jacó retornasse a Betel.

Jacó purificou sua família, exigindo que entregassem os ídolos. Pegou os ídolos e os enterrou na grande árvore de Siquém.

Finalmente, chegou à Luz, e chamou o lugar de Betel, onde Deus havia aparecido a ele quando fugia do irmão. Ali, Jacó construiu um altar.

Ali, Deus o abençoou:

“Seu nome é Jacó, mas você não será mais chamado Jacó; seu nome será Israel”. Assim lhe deu o nome de Israel.
E Deus ainda lhe disse: “Eu sou o Deus Todo-poderoso; seja prolífero e multiplique-se. De você procederão uma nação e uma comunidade de nações, e reis estarão entre os seus descendentes. A terra que dei a Abraão e a Isaque, dou a você; e também aos seus futuros descendentes darei esta terra” (35.10-12).

18) Nascimento de Benjamim e morte de Raquel (35)

Raquel engravidou novamente, mas teve complicações no parto e morreu. Quando soube que seria um menino, chamou-o Benoni, que significa “filho da minha aflição”, mas Jacó o chamou de Benjamim, que significa “filho da minha direita”.

Jacó enterrou Raquel no caminho de Efrata, em Belém, onde levantou uma coluna para marcar a sepultura.

Jacó fez acampamento adiante de Migdal-Éder. Em seguida, foi visitar sem pai em Manre, próximo a Quiriate-Arba. Ali ele sepultou seu pai Isaque junto de seu irmão Esaú.

19) Jacó na história de José

“Reconciliação entre Jacó e Esaú” por Peter Paul Rubens, 1624

José era o filho preferido de Jacó, e por isso, o pai fez para o filho uma túnica longa, o que causou a inveja dos outros irmãos (37.3-4).

Por isso, os irmãos tramaram um fim para José. Venderam o irmão e mancharam de sangue a túnica, para dizer ao pai que o filho havia morrido por um ataque de animais (37.33). Jacó chorou a morte do filho por muitos dias.

Muitos anos depois, veio a fome sobre Canaã, e Jacó enviou seus filhos para o Egito para buscar comida. O que Jacó não sabia era que seu filho José estava vivo e havia se tornado poderoso no Egito.

Após muitas idas e vindas dos irmãos, devido às tramoias de José, Jacó foi levado com toda a família para o Egito, quando pôde finalmente, depois de muitos anos, encontrar-se com seu filho perdido, num encontro muito emocionante:

“Ora, Jacó enviou Judá à sua frente a José, para saber como ir a Gósen. Quando lá chegaram, José, de carruagem pronta, partiu para Gósen para encontrar-se com seu pai Israel. Assim que o viu, correu para abraçá-lo e, abraçado a ele, chorou longamente. Israel disse a José: “Agora já posso morrer, pois vi o seu rosto e sei que você ainda está vivo” (Gn 46.28-30).

Jacó e sua família foram residir na região de Gósen, no Egito.

21) Bênção aos filhos (49)

“Jacó abençoa Efraim e Manassés no Egito”, Owen Jones, 1869

No Egito, Jacó abençoou os filhos de José, Manassés e Efraim, e os reconheceu como seus próprios filhos. Ele abençoou o mais novo Efraim, como se fosse o mais velho, e o mais velho, Manassés, como se fosse o mais novo (Gn.48).

Em, seguida, abençoou também cada um de seus doze filhos.

27) Morte de Jacó (Gn.50)

Jacó viveu 147 anos, sendo 17 anos no Egito. Antes de morrer, pediu que José prometesse que seria enterrado junto a seus pais Abraão e Isaque. E assim José o fez.

Jacó foi embalsamado por 40 dias, e os egípcios choraram por Jacó por 70 dias. E José levou toda a corte do Egito, bem como seus irmãos e o sepultaram na caverna do campo de Macpela, perto do Manre.

Essa é, afinal, a história de Jacó, cheia de reviravoltas e armadilhas. Uma história cheia de enganos e tramoias. A história de um enganador que foi transformado e abençoado por Deus. Uma história cheia de graves conflitos familiares, mas cujos laços foram restaurados pelo perdão.

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